Depois de desistência da Boeing, Embraer inicia enxugamento
Companhia anuncia programa de demissões, mesmo depois de conseguir empréstimo de 300 milhões de dólares do BNDES
Desde que foi frustrada a negociação com a americana Boeing, a fabricante de aeronaves brasileira Embraer voa em céus turbulentos. Com a devassa causada pela pandemia do novo coronavírus, a empresa adotou uma série de medidas para garantir seu respiro e garantir a continuidade dos negócios. Para preservar os empregos e tornar possível a sobrevivência num momento tão duro, foram estabelecidas, desde o mês de março, medidas como implantação do trabalho remoto, concessão de férias coletivas, suspensão temporária dos contratos de trabalho e redução da jornada de trabalho. Nesta quinta-feira, 2, a empresa foi além e anunciou a medida mais profunda até o momento. A Embraer discute com sindicatos a abertura de um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para um grupo de colaboradores que, segundo a empresa, está atualmente em férias coletivas e irá iniciar período de licença remunerada. A empresa tem, no total, cerca de 18 mil funcionários (16 mil deles no Brasil), mas segundo fontes ouvidas por VEJA, uma pequena parcela deverá ser acoplada no programa, já que a maioria dos funcionários está trabalhando, seja presencialmente ou em esquema de home-office.
A proposta de pacote de incentivo para quem aderir ao programa inclui extensão do plano de saúde para o colaborador e dependentes por seis meses, auxílio-alimentação de 450 reais mensais pelo mesmo período, apoio para recolocação no mercado, indenização do restante da estabilidade do acordo coletivo que se encerra em agosto, verbas rescisórias comuns a desligamentos sem justa causa e mais uma indenização de 10% do salário-base nominal por ano de empresa. Para quem recebe até 9 mil reais, a garantia compreende o pagamento de um salário nominal como indenização. Para os funcionários que recebem acima desse valor, a garantia gira em torno de, no mínimo, 9 mil reais em indenizações. Para quem optar pelo plano voluntário, a data de desligamento está prevista para 20 de julho.
Recentemente, foi iniciado o processo de reintegração da unidade de aviação comercial com uma reestruturação para reduzir duplicidades de funções e recuperar sinergias. A empresa vem ainda buscando parcerias para desenvolvimento de novos produtos e negociação de empréstimos para atender as necessidades de financiamento de exportações e de capital de giro.
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Clique e AssineEm meados do mês passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social, o BNDES, anunciou a aprovação de um empréstimo de 300 milhões de dólares — o equivalente a 1,5 bilhão de reais — para socorrer a companhia. O financiamento faz parte de um pacote de crédito oferecido por um consórcio de bancos, que pode chegar até a 600 milhões de dólares — ou 3 bilhões de reais —, dependendo da adesão das instituições financeiras. Com a devassa causada pela Covid-19 nas operações e vendas de avião, a Boeing desistiu da fusão negociada com a brasileira.
O acordo era avaliado em 4,2 bilhões de dólares pela compra da empresa brasileira. Além do coronavírus, a pressão do presidente americano, Donald Trump, em meio ao auxílio destinado pelo governo dos Estados Unidos para manter a empresa viva com as dificuldades amargadas pelo setor aéreo graças à pandemia, inviabilizou as negociações.