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A busca por um emprego na era do ‘home office’

Empresas se adaptam a contratações virtuais em meio à pandemia; dica para o candidato é testar a internet e se portar de forma profissional mesmo em casa

Por Larissa Quintino Atualizado em 5 jun 2020, 14h55 - Publicado em 5 jun 2020, 12h00

O desemprego acelerou substancialmente no Brasil com o avanço da pandemia de coronavírus no país e impõe uma série de desafios para quem tenta se recolocar no mercado de trabalho. Há menos gente contratando e, quando há oportunidade, o processo seletivo é feito de forma diferente: as salas de entrevistas das empresas passaram para dentro da casa do candidato, por meio de uma tela de computador. Os processos seletivos 100% virtuais — da seleção do currículo a contratação — já são realidade em diversas empresas, como o banco Santander e a B2W, que controla a Americanas, Submarino e Shoptime. Se antes a preocupação em uma entrevista passava pelo trajeto para chegar à empresa, agora o desafio é testar uma conexão com a internet e um local silencioso dentro de casa para conseguir conversar com o recrutador e mostrar que você está bem preparado para as novas oportunidades.

A porta para mercado de trabalho, há muitos anos, é virtual. A busca por vagas e o envio do currículo é feito por e-mail ou por plataformas na internet. Por conta de medidas de distanciamento social, as companhias que precisam contratar durante a crise tiveram que se readaptar. De acordo com uma pesquisa feita pela Catho, das empresas que estão contratando, 79% utilizam videochamadas para entrevistar candidatos. A própria Catho, inclusive, já contrata usando esse modelo. A gerente de Gente e Gestão da empresa, Patrícia Suzuki, que cuida do RH da empresa, foi o primeiro caso de contratação 100% virtual da companhia. Quando surgiu a oportunidade, em março, ela havia acabado de voltar de voltar do Canadá, onde passou férias. A restrição de deslocamento a pessoas que voltavam do exterior foi uma das primeiras medidas de combate ao coronavírus no país e, por isso, todo o processo de seleção de Patrícia foi feito de forma digital. “Foi a primeira vez que passei por um processo virtual e é algo que veio para ficar, mesmo depois da pandemia. A diferença é apenas o meio que as entrevistas estão sendo feitas, porque o objetivo é o mesmo, ver se o candidato se encaixa na vaga e na empresa. O contato por vídeo, agora faz parte da nova realidade, e vai ser cada dia mais usado”, afirma Patrícia, que desde sua contratação, trabalha dentro de casa. 

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Patrícia afirma que, apesar das entrevistas serem feitas dentro de casa, isso não isenta o candidato das mesmas preocupações que uma entrevista presencial: uma boa apresentação, dress code adequado com a cultura da empresa e clareza na hora de falar de si mesmo e de suas experiências. O conselho adicional é encontrar um local na casa que não haja interferência de muitas pessoas e testar a conexão com a internet. “Como as entrevistas são agendadas e a pessoa não perde tempo com deslocamento, ela pode pesquisar mais sobre aquela empresa que quer conversar com ela e, com isso, se preparar melhor para a conversa com o recrutador”, explica. Para Gil van Delft, presidente do grupo de RH PageGroup, o candidato deve testar sua internet, local da casa e até mesmo como se porta em uma conversa por vídeo antes da conversa com o entrevistador. “Ligue para um amigo, um familiar e simule uma entrevista. Muita gente fazia isso com o espelho antes, agora, dá para simular exatamente no local que irá acontecer”. Segundo Van Delft, em caso de interferências que fogem do controle do entrevistado, como barulho de obra na casa dos vizinhos ou até mesmo instabilidade no sinal de internet, é fundamental que a pessoa comunique o recrutador logo no início da conversa. “Imprevistos acontece e estamos todos dentro de casa, com filhos, animais de estimação, interferência dos vizinhos. É compreensível que haja uma interferência ou outra pelo novo contexto. Então, quanto mais aberto o candidato for com essa realidade, esses problemas ficam de lado e é possível focar no principal, a competência profissional daquela pessoa”. 

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A gerente de Gente e Gestão da Locaweb, empresa de serviços digitais, Simony Morais, afirma que o maior entrave é estrutural: a qualidade da internet em geral no país, que atrapalha o processo. Segundo ela, que conduziu 50 processos de contratação virtuais de março até então, as quedas de conexão, seja do entrevistado ou do recrutador, fazem com que se perca a linha de raciocínio e, às vezes, é aconselhado remarcar a conversa para outro horário ou outro dia. “Fazer a seleção virtual possibilita que a gente busque talentos que estão fisicamente distantes da gente, o que é muito positivo. Não há disputa por horário de sala dentro da empresa, as pessoas não perdem duas horas no trânsito e conseguimos ver o candidato dentro do seu contexto, e muitas vezes isso o deixa mais a vontade. Há esse porém, porque nem sempre a conexão funciona do jeito que deveria. Mas, faz parte da realidade brasileira e vamos conversando até encontrar o candidato certo para aquela vaga”, explica. 

O ‘novo normal’ nos processos seletivos já chegou também a grandes empresas. O Santander abriu 1.500 vagas para as áreas de tecnologia, dados, riscos, finanças e jurídicos e, por causa da pandemia, fará o processo de forma 100% digital. A primeira fase, inclui um teste online e depois toda a condução com o RH, que envolve entrevistas com gestores das áreas, será feita de forma online. De acordo com a vice-presidente de RH do Santander Brasil, Vanessa Lobato, a empresa já trabalhava com o desenvolvimento de processos remotos, tendo algumas iniciativas neste sentido, mas a pandemia acelerou a implantação do recrutamento remoto.

O mesmo ocorre com a B2W, que fará todo seu programa de estágio de forma digital. No ano passado, a companhia realizou metade do processo de forma digital (seleção de currículos, testes e dinâmicas), porém as entrevistas foram presenciais. Segundo o diretor de Recursos Humanos da empresa, José Mauro Barros, a companhia já planejava fazer todo o processo de 2020 de forma digital, antes mesmo da pandemia, porque enxerga essa forma de condução de processos adequada com a empresa e também parte de uma inovação nas contratações. No caso das dinâmicas por exemplo, a avaliação que a condução online de grupos por chamadas de vídeo otimiza o processo — além de trazer segurança de não reunir tantas pessoas dentro de uma sala. Porém, segundo Barros, a condução da seleção exige mais do recrutador, que precisa redobrar a atenção. “O processo online é naturalmente mais distante, por isso, é importante que o recrutador tente criar uma relação com o candidato, entender e analisar suas respostas e as decisões que tomou durante a vida. Quando se está atrás de uma tela isso se torna mais impessoal, então o desafio é se aproximar do candidato mesmo à distância”.

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