Disponível em 12 capitais, 5G promete impulso acelerado para varejistas
A tecnologia anima o setor de eletrônicos com o seu potencial de estimular as vendas de celulares no fim de ano
A Copa do Mundo a ser realizada no Catar acumula diversas peculiaridades, a começar pela data de sua realização, entre novembro e dezembro, uma ruptura com o calendário desse evento que costuma acontecer no verão do Hemisfério Norte, entre junho e julho. Até poucos meses atrás, os empresários do setor de varejo viam essa data com grande preocupação, pois havia o temor de prejudicar as vendas de duas datas cruciais para o comércio brasileiro — a Black Friday e, obviamente, o Natal. A chegada da tecnologia de telefonia celular 5G nas últimas semanas mudou esse panorama. O sistema de transmissão de dados de alta velocidade que permite baixar e visualizar vídeos em tempo muito inferior que o atual 4G passou a ser visto como um aliado decisivo no impulsionamento das vendas de novos aparelhos de telefone celular dotados da tecnologia. Com os horários das 64 partidas marcados para o período diurno, acredita-se que será grande o número de brasileiros que acompanharão as emoções do futebol pelo celular.
As previsões dos analistas do setor é de que os celulares habilitados para o sistema 5G ajudem a alavancar o faturamento do setor de eletroeletrônicos em até 2,7% no segundo semestre do ano em relação ao mesmo período de 2021, levando a uma receita de 97 bilhões de reais. “Não fossem os 3 bilhões de reais injetados como efeitos da Copa do Mundo e do 5G, esse segmento, quando muito, ficaria empatado em relação ao ano passado”, diz Fabio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “O cenário de 2022 é parecido com o de 2010, quando ocorreu a Copa na África do Sul e se realizou o lançamento do 4G. Na ocasião, o impacto da nova tecnologia foi muito positivo.”
A diferença, entretanto, é que, desta vez, a economia não está tão aquecida quanto há doze anos. Em conferências com analistas, após divulgarem os últimos resultados trimestrais, executivos de Magazine Luiza, Via (controladora das redes Casas Bahia e Ponto Frio) e Americanas comentaram de forma unânime que existe um “otimismo cauteloso” para o fim do ano. O “cauteloso” tem relação com o ainda preocupante ambiente de juros e inflação elevados. Já o “otimismo” tem muito a ver com a chegada do 5G e o seu potencial impulsionador de negócios para o mercado varejista, que, apesar de estar 1,6% acima do volume de vendas pré-pandemia, apresenta dificuldades justamente na área de eletroeletrônicos, que ainda não alcançou o patamar de 2019. Nas capitais em que a tecnologia está disponível, o Magazine Luiza percebeu um aumento entre 30% e 40% da demanda por aparelhos compatíveis com a nova geração.
Na segunda-feira 22, o sinal da nova geração de internet móvel chegou ao Rio de Janeiro, Vitória, Florianópolis e Palmas. Antes disso, capitais como Brasília, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Goiânia, Porto Alegre e João Pessoa já contavam com o sistema desde 6 de julho. As últimas quinze capitais entrarão nesse novo mundo tecnológico até o dia 27 de novembro, depois de a Anatel estender em dois meses o prazo, por causa de dificuldades de importação de equipamentos.
Por sua vez, as operadoras das redes travam uma corrida para entregar a melhor conectividade possível nas regiões de maior potencial de uso. No Rio, o edital do 5G previa que 252 antenas estivessem funcionando para o lançamento, mas, na prática, o número é bem superior: os pedidos de licenciamento ultrapassam 700. “Estamos seguindo o cronograma da Anatel e teremos 5G instalado em todas as capitais até o fim deste ano. Mas, em algumas, optamos por ter uma estratégia mais agressiva”, diz Leonardo Capdeville, vice-presidente de tecnologia da TIM. “Em Curitiba, por exemplo, chegamos a instalar dez vezes o número mínimo de antenas que eram exigidas pela Anatel. No Rio de Janeiro e em São Paulo, já temos presença em todos os bairros da cidade e iremos aos poucos ajustando as redes para alcançar uma cobertura contínua como temos hoje no 4G.”
Há, atualmente, 83 modelos de celulares aptos ao 5G, segundo a Anatel. A lista de homologações é liderada pela sul-coreana Samsung, com 28 modelos, seguida por Motorola, com dezessete, Xiaomi, com dez, e Apple, com nove. Segundo a empresa de pesquisas GfK, na primeira semana do ano, as vendas de aparelhos compatíveis com o 5G representavam 6,7% do total, ante os atuais 17,5% — e a tendência é de que esse crescimento se intensifique. Um estímulo extra é a queda no preço dos aparelhos, de um custo médio de 4 500 reais em janeiro para os atuais 3 100 reais. Os modelos 5G mais em conta no mercado custam cerca de 1 500 reais. “Antes mesmo do 5G puro chegar ao país já vínhamos buscando opções mais acessíveis. A ideia é justamente facilitar o acesso”, afirma Paulo Cesar Teixeira, CEO da Claro. Com um leque de aplicações extremamente vasto e que garantirá um impulso dramático às conexões por celular, a tecnologia do 5G começa a se expandir pelo país com a perspectiva de mostrar seus benefícios de forma inequívoca para os consumidores.
Publicado em VEJA de 31 de agosto de 2022, edição nº 2804