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Dólar pode passar a marca de R$ 4,40 se Banco Central não reagir

Especialistas fazem alerta devido ao impacto da epidemia do coronavírus na economia e à fraca recuperação interna; moeda opera em alta pelo 3º dia seguido

Por Felipe Mendes Atualizado em 19 fev 2020, 15h01 - Publicado em 19 fev 2020, 14h44
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  • Depois de uma semana de “ambiente controlado” no mercado financeiro, o dólar voltou a disparar. A moeda americana avançou 0,66% na terça-feira 18, encerrando o pregão cotada a 4,3580 reais, um novo recorde nominal para o fechamento. Analistas consultados por VEJA não esperam uma normalização cambial a curto prazo. Prova disso é que, nesta quarta-feira, 19, o dólar comercial já escalou novamente. Na máxima do dia, até as 14h40, a cotação da moeda americana atingia 4,3756 reais.

    Um dos fatores que explica a alta do dólar em relação ao real é o impacto que a epidemia do novo coronavírus (batizado de Covid-19) tem causado na produção da indústria e no consumo mundo afora. Na última segunda-feira 17, a gigante multinacional americana Apple, que tem a maior parte de sua produção de celulares e dispositivos tecnológicos instalada na China, reportou ao mercado que não conseguirá cumprir com sua meta de faturamento para o trimestre de janeiro a março de 2020.

    A informação caiu como uma bomba nas bolsas de valores pelo mundo. Só a Apple, em um dia, perdeu 26 bilhões de dólares em valor de mercado, uma queda de 1,83% – a empresa criada por Steve Jobs (1955-2011) terminou o dia valendo 1,39 trilhão de dólares. Com fábricas e lojas temporariamente paralisadas no país asiático – muitas já voltaram a funcionar, mas ainda não retomaram plenamente o ritmo –, a companhia projeta uma escassez temporária de insumos para a produção do iPhone. Isso pode significar, inclusive, o encarecimento no valor dos produtos da empresa disponíveis no mercado.

    A paralisação da economia chinesa também já impacta o Brasil. As fabricantes de eletrônicos LG, com planta em Taubaté (SP), e Flextronics, empresa de Jaguariúna (SP) que produz os celulares da Motorola, já anunciaram a suspensão temporária das atividades devido à falta de componentes que deveriam vir da China. De acordo com números da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a China é a principal origem das importações de componentes do Brasil. Uma sondagem da associação apontou que 52% do setor no país já enfrenta problemas no recebimento de material vindo da China, o que afeta a produção e a economia do país.

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    “A China é o principal mercado para a produção das principais empresas. Não é o caso somente da Apple. Podemos esperar mais balanços negativos”, diz Mauriciano Cavalcante, diretor da corretora Ourominas. “Por outro lado, a recuperação da economia interna anda devagar. Os indicadores divulgados no começo do ano não animaram tanto o mercado. Se o Banco Central não agir logo, o dólar deve passar de 4,40 reais”, completa.

    Em busca de conter os ânimos dos investidores, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a autoridade monetária está tranquila em relação à variação do dólar, e que essa movimentação não é reflexo de uma piora na percepção de risco na economia brasileira. Para ele, a flutuação também faz parte de um movimento de endividamento do empresariado, que estaria aproveitando os juros baixos para tomar dinheiro emprestado no país para pagar dívidas externas.

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    “A moeda só vai se recuperar de forma mais consistente quando a economia der sinais de recuperação no Brasil, com o avanço da agenda de privatização e a retomada do capital estrangeiro. Enquanto isso não acontece, o Banco Central tem de entrar com leilões para tentar conter essa situação”, diz Pedro Galdi, analista de investimento da Mirae Asset.

    Em novembro, VEJA vaticinou o novo cenário e explicou as intenções do governo ao manter o dólar valorizado. O plano de Guedes é manter o dólar mais caro e a Selic mais baixa por um período longo. Isso vai estimular investimentos em infraestrutura e dar fôlego às indústrias exportadoras. Com esse arranjo, o governo pretende que os especuladores internacionais que hoje operam no mercado deem lugar a investidores interessados em aplicar recursos em infraestrutura, produção de bens e no setor de serviços.

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