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Dólar pressiona inflação e eleva riscos para Selic e PIB

A alta de 17,3% do dólar em 2024 pressiona a inflação, levando a revisões pessimistas do IPCA e ameaçando juros mais altos

Por Luana Zanobia 22 out 2024, 15h54

O impacto de um dólar valorizado sobre a inflação é um fenômeno amplamente observado em economias emergentes, como o Brasil, onde a moeda nacional flutua em resposta às condições globais e à confiança interna. O dólar tem flertado na casa de R$ 5,70, uma valorização relevante comparada aos R$ 4,85 no início do ano. No acumulado do ano, a moeda já se valorizou 17,3%, o que tem causado uma onda de revisões pessimistas para a inflação, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) agora estimado em 4,5%.

De acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na última semana, a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saltou de 4,39% para 4,5%, atingindo o teto da meta de inflação estabelecida para 2024.  O impacto da valorização do dólar sobre a inflação brasileira é claro: produtos importados e insumos que compõem grande parte da cadeia produtiva nacional são diretamente afetados pela variação cambial.

Esse movimento inflacionário, por sua vez, eleva os riscos para a política monetária do Banco Central, que pode se ver obrigado a manter a taxa Selic em patamares mais elevados para conter a inflação. Ao manter os juros altos, o custo do crédito aumenta, impactando negativamente o consumo e os investimentos, o que prejudica o crescimento econômico e gera uma desaceleração no PIB. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já rebaixou a previsão de crescimento do brasil para o o próximo ano. A instituição alerta que o cenário para 2025 será menos favorável, com uma desaceleração prevista para 2,2%, em meio a uma política monetária ainda restritiva.

O cenário internacional, com tensões no Oriente Médio e a incerteza sobre as eleições nos Estados Unidos, tem contribuído para a manutenção do dólar em patamares elevados. Diante desse cenário, alguns analistas do mercado já projetam um dólar de R$ 6 ao final do ano. O banco Itaú, em seu relatório de outubro, manteve uma projeção mais otimista para câmbio, fixando em R$ 5,40 para 2024 e R$ 5,20 para 2025. No entanto, as previsões do banco aconteceram antes da escalada da guerra no Oriente Médio, que ganhou novos contornos nesta semana, e das pesquisas indicarem o retorno de Donald Trump à presidência. A volta do republicano ao poder gera uma elevação no dólar devido ao protecionismo defendido por Trump que, caso eleito, pode trazer mais inflação para os EUA, forçando o Federal Reserve a manter os juros altos, o que tende a valorizar o dólar globalmente.

As incertezas quanto à condução das contas públicas no Brasil e a capacidade do governo de cumprir as metas fiscais estabelecidas também continuam alimentando a volatilidade cambial. O Itaú também revisou suas expectativas para a inflação, que agora devem atingir 4,4% em 2024, em parte devido à pressão de alta nos preços de proteínas e à possibilidade de uma bandeira tarifária vermelha no setor de energia. “O problema do dólar alto é o impacto na inflação. Incorporamos bandeira tarifária amarela em dezembro e uma alimentação no domicílio mais pressionada em função da alta recente dos preços de proteínas. O balanço de riscos é majoritariamente altista com chance de a seca pressionar ainda mais os preços de energia (via acionamento de bandeira vermelha 1 em dezembro) e de alimentos”, avalia Mário Mesquita, economista-chefe do banco Itaú e reltório.

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A inflação já mostra sinais de resposta à depreciação do real. Segundo o banco, o IPCA-15 de agosto registrou uma aceleração nos núcleos sensíveis ao câmbio, que passaram de 4,2% em julho para 8,4% em agosto, demonstrando que a alta do dólar está sendo rapidamente repassada aos preços. “Identificamos que o mercado de trabalho mais apertado pode estar contribuindo para um repasse mais acelerado dos choques cambiais”, pontua o Itaú. Este repasse mais rápido é um reflexo de um mercado de trabalho que segue robusto, dificultando a desaceleração dos preços.

Apesar dos riscos, o Itaú acredita que o aumento do diferencial em relação aos juros americanos e a divergência de política monetária com outras economias emergentes deve contribuir para a apreciação da moeda brasileira no curto e médio prazo. Além disso, “a possível retomada do crescimento mais forte da economia chinesa, através do novo pacote de estímulos anunciado pelo governo em setembro, pode ajudar a sustentar os preços das commodities e beneficiar o real adiante”, o Itaú em relatório.

Para muitos analistas, o dólar alto continuará a ser um fator de pressão sobre a inflação nos próximos anos, tornando o ambiente econômico brasileiro ainda mais desafiador. Como conclui o relatório do Itaú: “O impacto do câmbio mais depreciado pode ser maior este ano do que em 2025. Na margem, o núcleo da inflação já está reagindo à depreciação do real, e este efeito pode ser mais prolongado do que o esperado”.

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