O dólar comercial teve forte alta nesta segunda-feira, negociado com alta de 1,29%, 5,18 reais, nível mais alto desde 29 março do ano passado, quando era cotado a 5,20 reais. No ano, a moeda americana já acumula valorização de 7%.
Vários fatores contribuem para esse aumento, tanto externos como domésticos — como a revisão das metas fiscais apresentadas nesta segunda-feira pelo governo federal. “O cenário doméstico não tem se mostrado favorável, e temos observado um esfacelamento do arcabouço fiscal. A trajetória das contas no médio prazo piorou a ponto de o governo precisar revisar a meta para o primário”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. Tais condições fiscais desfavoráveis aumentam os riscos percebidos pelos investidores, incentivando a migração de capitais para mercados considerados mais seguros.
No exterior, o ataque do Irã a Israel, que intensificou as preocupações de um agravamento do conflito no Oriente Médio, levou os investidores a procurarem refúgio em moedas consideradas mais fortes, como o dólar. Esse incidente, no entanto, foi apenas um dos elementos que impulsionaram a valorização da moeda. O dólar já vinha performando em alta na última semana após a economia americana dar sinais de que ainda permanece aquecida.
Apesar de a inflação estar desacelerando, a redução ocorre a um ritmo lento, e o país ainda dispõe de um mercado de trabalho robusto. Esse cenário está impactando diretamente as políticas de juros nos Estados Unidos, que se encontram em seus níveis mais elevados dos últimos vinte anos, sem indícios iminentes de redução. Atualmente, a probabilidade de manutenção dos juros em junho aumentou de 46,7% para 72,8% em uma semana, segundo a pesquisa FedWatch.
O cenário de juros elevados nos Estados Unidos aumenta o apelo dos títulos de dívida do governo americano, atraindo investidores globais e valorizando o dólar em relação a outras moedas. A bolsa brasileira, B3 registrou saídas significativas de capital estrangeiro com saldo negativo de R$ 1,824 bilhão no mês até agora. No acumulado do ano, o total de retiradas já ultrapassa R$ 25 bilhões.
Em movimento contrário ao americano, o Banco Central do Brasil tem reduzido a taxa Selic — que caiu de 13,75% ao ano em agosto do ano passado para 10,75% recentemente. De acordo com Volnei Eyng, presidente da Multiplike, a persistente robustez da economia americana deve influenciar as decisões de política monetária no Brasil. Isso poderá levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a moderar o ritmo de redução da Selic, ajustando para dois cortes de 0,25 pontos percentuais, ao invés dos três cortes anteriormente antecipados pelo mercado.