Depois da assinatura do acordo com a China, os Estados Unidos trocaram de alvo e relançaram, nesta quarta-feira, 22, sua ofensiva comercial contra a União Europeia, ameaçando sobretaxar os veículos europeus caso o bloco não abandone seus planos de impostos digitais ou não assine um acordo comercial com Washington. O tributo atingiria gigantes americanas da tecnologia, como Google, Apple e Facebook.
Após um primeiro dia dominado pelo tema do clima, o presidente americano Donald Trump bagunçou a agenda da elite econômica e política mundial reunida no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, para impor um de seus temas favoritos: o reequilíbrio das relações comerciais americanas.
“É muito, muito difícil lidar com a Europa. Eles vêm tirando vantagem do nosso país há anos (…) Se não conseguirmos algo (em termos de negociações comerciais), vou adotar medidas, e serão impostos muito altos para seus carros e outros produtos (importados)”, disse Trump em entrevista à rede de TV americana CNBC.
Trump, que se encontrou com a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen em Davos na terça-feira para iniciar discussões para um acordo comercial bilateral, acredita que a tarefa “será muito simples”. “Se não conseguirmos um acordo comercial (com a UE), teremos de aplicar um imposto de 25% sobre seus carros”, afirmou em outra entrevista à Fox News.
Ponto de discórdia
No centro das tensões entre os Estados Unidos e a Europa está o imposto adotado pela França sobre as atividades do setor digital, fortemente criticado por Washington, que ameaça sobretaxar o equivalente a 2,4 bilhões de dólares em produtos franceses. Outros países da UE seguiram o exemplo: Áustria e Itália introduziram uma tributação nacional, e Espanha e Reino Unido também estão considerando o mesmo.
O ministro das Finanças britânico, Sajid Javid, disse em Davos que Londres pretende “implantar em abril” seu imposto digital, que foi “concebido como um imposto temporário que cairá quando houver uma solução internacional”.
O ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, afirmou por sua vez que, “de qualquer forma, as empresas digitais pagarão um imposto em 2020 na França. Ou teremos uma solução internacional (…) e, neste caso, (…) o imposto internacional substituirá o imposto nacional (…) Ou não haverá acordo e, neste caso, o imposto nacional será aplicado”.
Após uma reunião entre os presidentes Emmanuel Macron e Donald Trump neste fim de semana, a França indicou que planeja “suspender” a cobrança do imposto neste ano, a fim de evitar sanções americanas, mas também para dar mais tempo para um acordo global dentro da OCDE.
As discussões no âmbito da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para encontrar um acordo internacional, no entanto, parecem difíceis: “O horizonte está claro (…) mas a escuridão está nos detalhes”, observou Le Maire. “Existe um processo na OCDE e estamos participando”, observou Steven Mnuchin, sem mais detalhes.
(Com AFP)