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É papel que não acaba: o Brasil da nota de R$ 200

Movimento, que soa como um eco do passado, veio atender a uma demanda emergencial do presente: o temor do governo de que, em meio à crise, faltassem reais

Por Larissa Quintino Atualizado em 4 jun 2024, 13h38 - Publicado em 24 dez 2020, 06h00

Enquanto o papel-moeda anda em declínio no mundo todo, situação acelerada pela pandemia, que tornou as notas de dinheiro potenciais superfícies contagiosas onde o novo coronavírus pode se alojar, eis que o Brasil lançou uma nova cédula — a de 200 reais. Esse movimento, que soa como um eco do passado, veio atender a uma demanda emergencial do presente: o temor do governo de que, em meio à crise, faltassem reais. “Em momentos de incerteza, é natural que as pessoas busquem uma reserva em dinheiro”, justificou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no lançamento, em setembro, da cédula novinha em folha, ornada com a imagem de um lobo-guará. As redes sociais, sempre elas, trataram de viralizar a brincadeira de que estaríamos mais bem servidos com o brasileiríssimo vira-lata caramelo. Pesou ainda em prol da impressão em massa da nota a criação do auxílio emergencial, benefício federal concedido em grande escala aos mais afetados pela crise, recurso frequentemente sacado na boca do caixa.

E, nesta era em que as transações digitais avançam rapidamente, dá-lhe produção de dinheiro vivo. A demanda foi calculada pelo BC: seriam necessários 105,9 bilhões de reais em espécie, além dos 64 bilhões já previstos para este ano, para dar conta da elevada demanda. Sem tempo nem capacidade fabril, foi cogitada até a possibilidade de se importar cédulas, mas o BC acabou optando pela nota de 200, made in Brazil. Até o início de dezembro, 42,3 milhões de cédulas estampadas com o lobo-guará já estavam em plena circulação. Enquanto o Brasil ostenta número tão graúdo de dinheiro vivo, em países da União Europeia, onde ainda se imprimem notas de 500 euros, as cédulas são malvistas e vão escasseando: seriam um estímulo para a lavagem de dinheiro ao facilitar o transporte de polpudas cifras decorrentes de negócios ilícitos. A nota de 200 reais começou a pipocar e logo estreou nas páginas policiais, depois que a PF encontrou várias dela na cueca do senador Chico Rodrigues (DEM), em cena grotesca. A cédula também foi objeto de ações movidas por deficientes visuais questionando seu tamanho, o mesmo da de 20 reais. O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a aventar a extinção do lobo-guará em papel um mês após sua invenção, mas ele segue firme.

Publicado em VEJA de 30 de dezembro de 2020, edição nº 2719

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