Em dia de trégua, Ibovespa sobe e dólar cai de olho em tarifas de Trump
Agentes de mercado digerem anúncio de tarifas de Trump e entendem que republicano busca abrir conversas com países

Em mais um dia de alívio para ativos de risco globalmente, o Ibovespa e o real caminham para um desempenho positivo no acumulado da semana, enquanto investidores digerem a divulgação das tarifas recíprocas do presidente dos EUA, Donald Trump, anunciadas ontem.
Perto das 12h, o dólar à vista tinha queda de 0,7%, a 5,72 reais, enquanto o principal índice da B3 subia 1,1%, aos 126,2 mil pontos.
No pano de fundo, agentes de mercado receberam com certa tranquilidade o anúncio de Trump realizado ontem, por entenderem que a posição do republicano tem muito mais a ver com forçar um diálogo com os países do que propriamente estourar uma guerra comercial. Embora as tensões possam voltar a crescer, diante de um ambiente incerto e volátil envolvendo as decisões de Trump, a avaliação é de que o curtíssimo prazo reserva alívio para os ativos de maior risco.
Se confirmado o desejo de Trump de que o anúncio é muito mais um guia para a equipe comercial e de que as tarifas recíprocas possam, no futuro, serem mais moderadas do que o inicialmente previsto, o espaço para a correção dos ativos é maior, já que o mercado veio precificando o tema há algumas semanas.
Na agenda de indicadores no exterior, os investidores também acompanham dados de vendas no varejo americano, que mostraram uma queda de 0,9% de dezembro a janeiro, para US$ 723 bilhões, abaixo das expectativas. Uma economia mais fraca endossa o menor espaço que o Federal Reserve, o banco central americano, tem de reduzir os juros no país.
O movimento de melhora na percepção de risco pode ser visto também pelo Índice Dólar, ou DXY, que mede o retorno da moeda americana frente a uma cesta de moedas globais. No começo desta tarde, o indicador tinha queda de 0,57%, a 106,70 pontos. Se a demanda pelo risco prosseguir até o fim da sessão, o Ibovespa deverá acumular uma alta de 1% na semana, enquanto o dólar deve recuar cerca de 1,4%.
No Brasil, a agenda mais leve permite ao Ibovespa seguir em ritmo positivo, enquanto investidores recebem dados do mercado de trabalho do Brasil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) , divulgada nesta sexta-feira, 14, mostra que 14 estados atingiram os menores patamares de desocupação já registrados. A taxa de desemprego no Brasil recuou para 6,6% em 2024, uma queda de 1,2 ponto percentual em relação a 2023 (7,8%). A queda foi registrada em todas as regiões do país e em 22 das 27 unidades da federação.
Embora positivo do ponto de vista macroeconômico, os números sugerem uma atividade ainda forte no Brasil, o que representa menos espaço para uma política monetária flexível por aqui — conforme já esperado pelos investidores.
Outro destaque é a participação do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento promovida nesta manhã pela Fiesp, em que o dirigente afirmou que a política tarifária de Trump pode afetar muito mais o México do que o Brasil. “Ainda estamos tentando entender as medidas que serão efetivas e suas repercussões”, disse ele. O discurso se alinha ao do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que chamou as tarifas de Trump sobre o aço e alumínio as decisões de “contraproducentes”, mas afirmou que também depende de estudos para entender o real impacto das medidas.