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Empresários bolsonaristas mudam o foco e reduzem exposição política

Famosos pela defesa incondicional do presidente, eles começam a se preocupar com o impacto em suas companhias

Por Felipe Mendes Atualizado em 4 jun 2024, 13h04 - Publicado em 22 ago 2021, 08h00

A frase “Eu me reservo o direito de permanecer em silêncio”, e suas variações, foi repetida 71 vezes pelo empresário Carlos Wizard em seu depoimento na CPI da Covid há pouco mais de um mês. O bilionário foi inquerido por causa de sua suposta participação no “ministério da saúde paralelo”, que receitava tratamentos de eficácia não comprovada contra a doença. Em menor ou maior medida, a estratégia de silêncio do dono da rede de produtos naturais Mundo Verde, dos restaurantes Taco Bell no Brasil e das marcas esportivas Topper e Rainha tem sido utilizada por outros notórios defensores do presidente Jair Bolsonaro entre a nata do capitalismo nacional.

Parte da explicação para isso tem a ver com a franca queda de popularidade do político. Segundo as últimas pesquisas, cerca de 54% dos brasileiros consideram o governo ruim ou péssimo e a desaprovação à sua Presidência atinge 63% das pessoas ouvidas. Nesse cenário, o custo de endossar as ideias de Bolsonaro se tornou alto demais para a imagem das empresas envolvidas. Até mesmo apoiadores inequívocos como o performático Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, têm adotado o comedimento. Apesar de ter participado da motociata do presidente em Santa Catarina, há duas semanas, Hang está menos ativo na defesa a Bolsonaro nas redes sociais. Desde a manifestação, publicou apenas três postagens de cunho político — elogios ao ministro da Infraestrutura, críticas a Luiz Inácio Lula da Silva e um texto de apoio à criação de empregos.

71 VEZES SILÊNCIO - Wizard (no centro) na CPI da Covid: exemplo negativo -
71 VEZES SILÊNCIO – Wizard (no centro) na CPI da Covid: exemplo negativo – (Waldemir Barreto/Agência Senado)

Além da má fase do presidente, há no momento outros fatores que têm levado os empresários bolsonaristas a mudar o foco. Bancos que assessoram Hang no projeto de abertura de capital da empresa alertaram acertadamente que sua exposição política pode ser prejudicial. Em 2020, mesmo com a pandemia no auge, a Havan calculava que poderia alcançar um valor de mercado de 100 bilhões de reais. Hoje, analistas estimam que (em razão de um momento menos otimista do mercado) chegue, no máximo, a 45 bilhões de reais. Em situação mais complicada está a rede de restaurantes Madero, de Junior Durski. O empresário paranaense, famoso por declarar que a Covid faria, no máximo, entre “5 000 e 7 000 mortos”, é hoje adepto do silêncio em questões político-sanitárias, pelo menos publicamente. Afetada pela crise, a rede acumula quase 1 bilhão de reais em dívidas e luta para sobreviver. Depois de reconhecer em balanço que há “dúvidas substanciais sobre a capacidade da companhia de continuar em funcionamento dentro de um ano”, a empresa tenta convencer investidores de que será possível nos próximos meses fazer uma abertura de capital avaliada em 2 bilhões de reais. É um processo em que a exposição demasiada costuma ser nefasta. “Toda tomada de posição política traz vantagens e desvantagens. O ideal é tentar se manter neutro”, analisa Eduardo Tomiya, sócio-fundador da consultoria de gestão de marcas TM20 Branding. “Uma vez assumido um lado, não tem mais meio-termo. E hoje a conotação negativa está pesando mais que a positiva para essas empresas.”

Apesar de se considerar mais um fã do direcionamento econômico do governo, Henrique Bredda, gestor do fundo de investimentos Alaska Asset Management, notoriamente defende Bolsonaro em alguns de seus posicionamentos, como em relação à pandemia e ao aborto, e é um caso exemplar do momento mais discreto entre seus apoiadores. Reconhecidos por trazer altas rentabilidades nos últimos anos, os seus dois fundos estão entre os que mais sofreram com a crise econômica, colhidos em um momento de alta exposição ao risco. Ainda hoje, mesmo com a melhora do desempenho do Ibovespa, operam com perdas de 40% em relação ao período pré-pandemia e perderam quase 50 000 dos seus 207 000 cotistas. A profusão de pronunciamentos de Bredda sobre os mais diversos assuntos levantou suspeitas de que não dedicava a devida atenção à gestão financeira. Ele próprio reconheceu, em conversas, que se expôs no Twitter além do que deveria e decidiu apagar os 1 100 tuítes de sua conta com cerca de 185 000 seguidores. Também bloqueou os comentários de suas postagens no Instagram. Procurados para esta reportagem, não surpreendentemente, todos os personagens citados declinaram de fazer declarações. Mais prudentes agora, entenderam que misturar política com negócios pode ser perigoso.

Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752

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