Buscar serviços de transporte e delivery, efetuar compras on-line e enviar mensagens são tarefas que tomam um bom tempo no dia a dia, muitas vezes com um passeio por vários aplicativos. Que tal fazer isso mais rapidamente, por comando de voz, num aparelho de bolso? Essa é a novidade proposta pela startup americana Rabbit, financiada em 30 milhões de dólares pela Khosla Ventures, gestora do bilionário indiano Vinod Khosla. O dispositivo é um assistente pessoal de bolso que utiliza inteligência artificial para oferecer essas conveniências.
Chamado de R1, o aparelho foi lançado na recente feira mundial de eletrônica de consumo (CES), realizada no início de janeiro em Las Vegas. Jesse Lyu, fundador da Rabbit, fez uma demonstração em vídeo do R1, solicitando que planejasse suas férias em Londres, pedisse uma pizza e reservasse um carro do Uber. A novidade agradou: as 10 000 unidades disponíveis do aparelho esgotaram em 24 horas. Tamanho sucesso está relacionado ao preço mais convidativo de 199 dólares (cerca de 1 000 reais), comparado ao de seu concorrente da Humane, uma espécie de broche eletrônico lançado em novembro por 699 dólares (perto de 3 500 reais), que oferece funcionalidades semelhantes. Uma das características mais exclusivas do Humane AI Pin é que ele projeta informações virtualmente na mão, ou seja, não usa uma tela.
Essas inovações chegam ao mesmo tempo que a Samsung lança seu primeiro smartphone com recursos de IA. Diferentemente de plataformas conhecidas como ChatGPT e Microsoft Copilot, a inteligência embutida no smartphone da Samsung será entregue gratuitamente. Segundo a companhia, a ideia é democratizar a IA, oferecendo funcionalidades como tradução simultânea, transcrição de conversas, aprimoramento de fotografias e um buscador próprio com a ferramenta Circule. Desenvolvido pelo Google para smartphones (estará disponível também em outras marcas de celulares Android), o recurso possibilita a busca de mais informações sobre textos e imagens que podem ser vistos na tela do dispositivo, sem precisar mudar de aplicativo para pesquisar. Tudo elaborado para que o usuário tenha menos trabalho no dia a dia.
O lançamento da Samsung é uma tentativa de fazer parte de uma revolução que está acontecendo na IA. Tecnologias que usam interfaces gráficas e aposentam o uso de uma tela estão se popularizando entre os investidores. “Esse movimento é impulsionado por empresas inovadoras, como Humane e Rabbit, que estão introduzindo acessórios inteligentes capazes de transcender a funcionalidade convencional dos smartphones”, afirma Gil Giardelli, professor da Fundação Dom Cabral, especialista em inovação e tecnologia.
Embora a transição para a era pós-smartphone seja vista como uma evolução gradual, diversas inovações já estão sendo desenvolvidas para proporcionar interações mais avançadas. O presidente da OpenAI, Sam Altman, conhecido por sua contribuição ao universo da tecnologia com o ChatGPT, destaca-se também como um dos investidores da Humane. Altman, junto com Jony Ive, o renomado ex-chefe de design da Apple, está atualmente envolvido em um projeto ambicioso dedicado à inteligência artificial. Embora os detalhes específicos sobre o que a dupla está desenvolvendo ainda não tenham sido divulgados, o investimento significativo de 1 bilhão de dólares por parte do líder do fundo japonês SoftBank, Masayoshi Son, deixa claro que o projeto promete ser grandioso.
A Samsung, atual líder mundial em venda de celulares, adota uma estratégia diferente: em vez de eliminar o smartphone, incorpora inteligência artificial aos seus dispositivos para melhorar a experiência cotidiana. A marca coreana saiu na frente nessa corrida ao lançar o primeiro smartphone com IA embarcada, enquanto a Apple segue sem grandes novidades em seus iPhones. Isso porque a aposta da Apple em inteligência artificial está centralizada nos óculos de realidade virtual, conhecidos como Vision Pro. “A decisão de integrar ou não inteligência artificial em dispositivos pode determinar o futuro das empresas de tecnologia. Empresas que optam por não a adotar correm o risco de ficar para trás”, diz Giardelli. Segundo o especialista, ainda estamos nos estágios iniciais da era pós-smartphone, mas a competição entre as empresas já está para lá de acirrada.
Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2024, edição nº 2877