Crise já faz empresas desistirem de lançar ações na Bolsa
A Log, braço logístico da MRV, diz que "continuará acompanhando o mercado para identificar o momento oportuno para dar prosseguimento ao processo no futuro"
Na semana de maior tensão dos mercados financeiros, duas empresas desistiram de lançar suas ações para negociação. A Log, braço logístico da construtora MRV, retirou na última quinta-feira o pedido de oferta pública inicial (IPO, em inglês) na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A data coincide com o dia de forte queda na bolsa e disparada do dólar, deflagrados após virem à tona as gravações do presidente Michel Temer, feitas por Joesley Batista, dono da JBS. O empresário alega que Temer teria dado aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na Operação Lava Jato. O presidente nega.
A divulgação do grampo envolvendo o presidente na quarta-feira fez o Ibovespa cair mais de 10% logo nos primeiros minutos de quinta, levando a B3 (antiga BM&FBovspa) suspender os negócios por meia hora. O recurso, conhecido como circuit breaker, não era usado desde 2008. A bolsa encerrou o dia em queda de 8,15%. O dólar registrou no dia a maior alta diária em 18 anos, a 3,3886 reais.
Procurada pela reportagem de VEJA, a Log disse em nota que “continuará acompanhando o mercado para identificar o momento oportuno para dar prosseguimento ao processo no futuro”.
Outra empresa que estava com pedido IPO na CVM, a XP desistiu de abrir capital na segunda-feira da semana passada. A corretora havia anunciado a venda de 49,9% das suas ações ao Itaú no dia 11 de maio, por 6 bilhões de reais.
No caso da XP, o cancelamento do IPO se dá por outro motivo. A corretora informa que a desistência da abertura de capital foi motivada pela negociação com o Itaú, já que a empresa conseguiu os recursos necessários por meio da venda de participação ao banco.
Mudança de vento
A desistência de abertura de capital rompe com o movimento verificado no primeiro quadrimestre, quando três empresas lançaram suas ações na bolsa. A estreia de companhias brasileiras na B3 (antiga Bovespa), tinha sido a maior desde 2013, quando ocorreram dez IPOs. O total de IPOs deste ano já igualava o número de ofertas feitas em 2014, 2015 e 2016 somados – apenas uma abertura de capital em cada ano.
Para os analistas, o movimento verificado no começo do ano podia ser explicado pela retomada da confiança nas perspectivas para o futuro da economia do país. No entanto, a nova crise política pode ter afetado os rumos da confiança.