Enquanto os juros caem no exterior, Brasil fez movimento inverso em 2024
A resiliência da inflação brasileira, puxada por alimentos e serviços, é um dos motivos para o aperto na política monetária

Após manter taxas de juros elevadas por mais de dois anos, necessárias para debelar a inflação causada pelo desarranjo da economia global depois da pandemia de covid-19, os principais bancos centrais do mundo finalmente inverteram a rota. O Banco Central Europeu puxou a fila em junho, ao baixar a taxa do bloco de 4,5% para 4,25% ao ano. Em novembro, os europeus já contavam com juros básicos de 3,4%. O Banco Central da Inglaterra fez o mesmo em agosto, com um recuo de 0,25 ponto percentual em sua taxa, para 5% ao ano. Na reunião seguinte, os juros recuaram para 4,75%. O movimento mais aguardado por investidores, contudo, era o início dos cortes da taxa básica dos Estados Unidos. Do início de 2022 a meados de 2023, o Federal Reserve catapultou os juros americanos de 0,25% para 5,5% anuais. Após muita expectativa, o Fed finalmente baixou a taxa em 0,5 ponto em setembro. Dois meses depois, anunciou um novo recuo, para 4,75%.
Enquanto seus pares afrouxavam a política monetária, o Banco Central brasileiro caminhou na contramão. Na mesma quarta-feira de setembro em que o Fed iniciou seus cortes, o Comitê de Política Monetária (Copom) lançava uma nova rodada de alta da taxa Selic. Com um ajuste de 0,25 ponto percentual, os juros subiram para 10,75% ao ano.
A resiliência da inflação brasileira, puxada por alimentos e serviços, é um dos motivos para o aperto na política monetária. No acumulado de doze meses até outubro, a inflação chegou a 4,76%, acima do teto da meta de 4,5%. O outro é a dívida pública, que escalou de 72% para 79% do PIB em apenas vinte meses. A preocupação com as contas públicas uniu Roberto Campos Neto, cujo mandato de presidente do BC acaba em 31 de dezembro, e seu sucessor, Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária. Em dezembro, quando o Copom elevou a Selic para 12,25%, ambos endossaram a dura nota sobre a decisão, que sinalizava mais duas altas de 1 ponto percentual até março de 2025 se a inflação não ceder. Galípolo se parece cada vez mais com Campos Neto, para desgosto do presidente Lula, que o considera um “menino de ouro”.
Publicado em VEJA de 20 de dezembro de 2024, edição nº 2924