Especialistas citam desafio imediato para as montadoras com a taxação de Trump
Tarifas de 25% impostas pelo presidente Donald Trump sobre a importação de carros aumentam a incerteza no setor automotivo

As novas tarifas de 25% impostas pelo presidente Donald Trump sobre a importação de carros e caminhões montados já afetam o setor automotivo aumentando ainda mais a incerteza em um momento que as montadoras lutam contra a queda nas vendas de veículos na Europa e Japão e China.
Com a previsão de arrecadar 100 bilhões de dólares em receitas fiscais, a medida pode, no entanto, elevar os custos anuais das montadoras em até 75 bilhões de dólares estimou a gestora Bernstein. Países como Canadá, Alemanha, França e Reino Unido já sinalizaram que poderão responder com tarifas próprias, o que pode intensificar uma guerra comercial global, afetando a cadeia de suprimentos e o mercado.
“A reação imediata ao anúncio da taxação foi negativa, com quedas nas ações das montadoras europeias”, afirma o economista Ian Lopes, da Valor Investimentos. “Isso também preocupa as empresas americanas, pois muitas delas, apesar de serem sediadas nos EUA, produzem grande parte de seus veículos em países como México e Canadá. Com as tarifas, há uma possibilidade de realocação de fábricas, mas ainda não se sabe como isso se desenrolará”, explica.
Antonio Jorge Martins, coordenador acadêmico dos cursos na área automotiva na Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que as montadoras europeias e japonesas já enfrentam dificuldades devido à queda nas vendas na Europa, Japão e, mais recentemente, na China, o maior mercado automotivo do mundo, que vem crescendo muito. Segundo ele o aumento de preços vai fazer com que os produtos se tornem ainda menos competitivos, prejudicando empresas que já estão com suas margens apertadas. Todas as montadoras que hoje importam peças ou produtos dentro dos Estados Unidos serão afetadas.
“O impacto decorrente dessas tarifas deve ser muito grande em nível de vendas e também em termos de performance financeira, afetando o lucro e, possivelmente, afetando o caixa também dessas companhias que já vêm sendo, de uma forma geral, penalizadas ao longo dos últimos tempos por conta da redução das vendas no mercado europeu, japonês e também com a menor participação no mercado chinês”, diz.
Empresas que possuem fábricas nos Estados Unidos ou que fabricam componentes como baterias para veículos elétricos no país, como a Tesla e a Toyota, estão em uma posição mais confortável. “É possível que algumas empresas, como a Hyundai, que anunciou recentemente um grande investimento em uma fábrica nos EUA, busquem reforçar sua produção local, como resposta a essa política”, diz Martins. Ele enxerga a possibilidade de algumas empresas, aquelas que estarão sendo mais afetadas, de transferirem suas unidades fábricas para os Estados Unidos.
A medida, embora não afete diretamente o Brasil em termos de exportação de carros para os Estados Unidos, pode gerar efeitos indiretos. Em algumas situações pontuais, montadoras que tem veículos no Brasil e exportam para o mercado americano podem ser afetadas pela dificuldade de exportar. “Para dar um exemplo: se a produção de uma fábrica na Europa estiver saturada, as montadoras poderiam importar veículos que estejam no Brasil. Porém, com as novas tarifas, isso se tornará mais difícil”, diz