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Especialistas temem que reforma do IR reduza arrecadação do governo

Governo diz que tributação dos super-ricos será suficiente para cobrir isenção aos demais, mas cálculo não é claro e pode ser desidratado no Congresso

Por Juliana Elias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 mar 2025, 08h01

Uma dos temores de economistas, tributaristas e outros especialistas em relação ao projeto de isenção do Imposto de Renda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é de que, entre os descontos e as ampliações de tributação previstos, a conta acabe ficando no vermelho para o governo. Isto é: a renúncia pode acabar maior do que as compensações planejadas, e, ao fim, o projeto apenas pioraria a já delicada situação fiscal do governo federal, que está há anos com as contas no negativo.

Anunciada nesta semana, a “microrreforma do IR” apresentada por Lula isenta ou reduz o IR cobrado de todos que ganham até 7.000 reais, enquanto aumenta a mordida a ser descontada dos ganhos do 0,6% mais rico da população – aqueles que têm renda mensal de 50.000 reais para mais. Esta ponta do topo paga hoje, em média, 2,6% de imposto sobre tudo o que ganha, enquanto aqueles que recebem até os 7.000 chegam a pagar 10%. Isto acontece porque, no extrato dos super-ricos, 80% da renda vem de dividendos e outras fontes de renda isentas de impostoenquanto, no restante, o grosso vêm dos salários, que são descontados na fonte e pagam de 7,5% a 27,5% de impostos de renda. Os dados são da Receita Federal e foram apresentados pelo Ministério da Fazendo junto ao projeto do IR.

As contas do governo são que a redução do imposto para aqueles da base, que aliviará a cobrança do Leão para mais de 10 milhões de pessoas, custará uma perda de cerca de 26 bilhões de reais em arrecadação ao ano. Do outro lado, aumentar a taxação do 0,6% que está no topo, um grupo de 140 mil pessoas, deve levantar 34 bilhões de reais. Ou seja, mais do que o suficiente para pagar a conta dos demais.

Especialistas, entretanto, ainda duvidam dessa conta: seja porque ela não foi bem explicada, seja porque pode estar otimista demais, seja, simplesmente, porque o Congresso não deve aprová-la como está. “A conta do governo de quanto irá ganhar com a tributação adicional está superestimada e é muito pouco transparente”, diz o presidente-executivo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação, João Eloi Olenike.

O economista Murilo Viana, especializado em contas pública, destaca os riscos dos desdobramentos das medidas a partir do momento em que começarem a tramitar no Congresso, onde podem repetir novelas já vistas muitas vezes de desidratação ou de listas inacabáveis de exceções. “É uma proposta difícil de os parlamentares votarem contra. O risco está em os parlamentares tentarem aumentar a base de isenção ou de abrir o leque das possibilidades para fugir da tributação maior”, diz ele. “Não tenho a menor dúvida de que, nos próximos dias, diversas associações vão se movimentar para criar excepcionalizações, deduções e, com isso, reduzir o potencial de arrecadação.”

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Os profissionais liberais de alta renda, por exemplo, que ganhem mais do que os 50.000 reais do recorte criado, estão entre os que devem sentir diferença no bolso caso o projeto seja aprovado. É um grupo em que entram médicos, advogados ou engenheiros, que prestam serviços por meio de empresas de consultoria de pequeno e médio porte inscritas no Simples ou no regime de lucro presumido e que, com isso, acabam pagando menos imposto do que assalariados com a mesma renda ou até menor pagam hoje. Foi este mesmo grupo que, na reforma tributária do consumo, regulamentada e aprovada no ano passado, conseguiu o direito de entrar nas exceções que pagarão uma alíquota menor do imposto único criado.

Viana lembra que, pela Lei de Responsabilidade Fiscal, é crime que tanto o Executivo quanto o Legislativo apresentem um aumento de despesa ou uma renúncia fiscal permanente sem que seja apresentada a contrapartida que irá gerar novas receitas para cobrirem o buraco. “Mas isso, historicamente, é ignorado no Brasil, e em especial no Legislativo, que não sofre as mesmas cobranças que o Tribunal de Contas faz sobre o Executivo e não está acostumado a ser responsabilidade por descumprir essa regra”, diz o economista.

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