A economia americana deu mais um sinal de que está caminhando para um pouso suave nesta quarta-feira, 23 — um desfecho que parecia improvável, especialmente considerando que o Federal Reserve (Fed) foi um dos últimos grandes bancos centrais a iniciar o ciclo de aperto monetário após a pandemia.
O livro Bege, relatório sobre as atuais condições econômicas em cada um dos 12 distritos do Fed, apontou que “a atividade econômica foi pouco alterada em quase todos os distritos desde o início de setembro”, com exceção de dois que relataram um crescimento modesto.
Este quadro reflete uma economia que, embora não esteja em recessão, também não exibe os sinais robustos de expansão. Esse movimento tem implicações diretas sobre a política monetária do Fed, que recentemente iniciou um ciclo de corte de juros após observar um arrefecimento da inflação. Na última reunião, o banco reduziu em 0,50 ponto percentual os juros fixando na banda de 4,75% a 5% ao ano.
Com o declínio na atividade industrial em vários distritos e o comportamento misto do consumo, o Fed tem enfrentado um ambiente mais favorável para manter sua trajetória de redução das taxas de juros. Cerca de 88,8% do mercado aposta que o banco vai reduzir os juros na próxima reunião, realizando corte de 0,25 p.p, segundo a ferramenta FedWatch.
A inflação, segundo o comunicado, “continuou a moderar”, com os preços subindo a um ritmo “leve ou modesto na maioria dos distritos”. Isso sugere que os esforços anteriores de aperto monetário, visando conter a escalada dos preços, estão começando a surtir efeito. No entanto, algumas pressões inflacionárias persistem, especialmente em setores como alimentos, onde “os preços de alguns produtos alimentícios, como ovos e laticínios, foram relatados como tendo aumentado mais acentuadamente”. Esse detalhe impede uma redução mais agressiva das taxas de juros, uma vez que segmentos específicos da economia ainda enfrentam aumentos de preços significativos.
O mercado de trabalho, embora ainda robusto, também oferece sinais de arrefecimento. O comunicado indica que “o emprego aumentou ligeiramente”, mas com menos contratações focadas em crescimento e mais voltadas para a substituição. A menor demanda por trabalhadores e a “desaceleração no ritmo de aumentos salariais” sugerem que a pressão sobre o mercado de trabalho está diminuindo, o que é um dado relevante para a política do Fed. Um mercado de trabalho mais equilibrado tende a aliviar as pressões inflacionárias vindas dos salários, permitindo que o banco central aja com mais confiança na redução das taxas.
No setor imobiliário, o impacto direto das políticas de juros é evidente. Apesar da expansão do estoque de imóveis e da estabilidade dos preços, “a incerteza sobre o caminho das taxas de hipoteca” continua afastando compradores.
A relação entre as taxas de juros e o financiamento imobiliário é direta: à medida que o Fed corta as taxas, espera-se que as hipotecas sigam o mesmo caminho, tornando o crédito mais acessível e potencialmente aquecendo a demanda por imóveis. No entanto, com a persistente falta de moradias acessíveis, o efeito da redução dos juros pode ser limitado, especialmente em comunidades onde os preços das casas já estão elevados.
A atividade no setor bancário, “geralmente estável ou ligeiramente ascendente”, também reflete o impacto das taxas de juros mais baixas. A redução nas taxas melhora as condições de crédito, o que foi observado em alguns distritos, onde “a demanda por empréstimos foi mista, com alguns distritos observando uma melhora na perspectiva devido ao declínio nas taxas de juros”. Esse ponto reforça o papel do Fed em ajustar a política monetária para incentivar o crédito e estimular a economia, embora de forma contida, dada a persistência de incertezas macroeconômicas.