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Estados Unidos reabrem mercado para carne brasileira, suspenso desde 2017

Exportações estavam interrompidas desde a malfadada e atrapalhada Operação Carne Fraca — e veto demorou a cair por pressões de produtores americanos

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 14h44 - Publicado em 21 fev 2020, 17h32
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  • A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciou pelo Twitter nesta sexta 21 que os Estados Unidos liberaram a importação de carne in natura brasileira. O produto estava banido do país desde 2017, na esteira da atrapalhada Operação Carne Fraca, que, com estardalhaço desproporcional, causou um impacto negativo para as exportações nacionais. “Mais um bom resultado para nossa economia. Reconhecimento da qualidade do produto brasileiro”, escreveu a ministra nas redes sociais. A liberação é fruto de uma série de negociações pela ratificação da qualidade do produto brasileiro. Autoridades americanas fizeram inspeções em frigoríficos locais para confirmar que o produto não seria nocivo para os consumidores americanos. 

    Secretários do Ministério argumentavam que a liberação era uma questão de tempo e que a demora se devia, primordialmente, pela pressão e pelo lobby dos produtores americanos. A avaliação de membros da pasta é de que, sabendo que a carne brasileira atendia às normas técnicas, os agricultores estadunidenses temiam perder uma fatia expressiva do mercado.

    Desde o início de sua gestão, a ministra — uma engenheira-agrônoma de 65 anos, nascida em Campo Grande (MS) e reeleita deputada federal em 2018 pelo DEM — acumula milhagens atrás de investimentos e novos compradores. Atravessou o planeta dedicando seu tempo aos aliados mas também a governos reticentes com Bolsonaro, como o da França. Pela atuação, Tereza ganhou a pecha de “chanceler pragmática”. Bem avaliada na Câmara e no Senado, ela sabiamente rejeita a alcunha para não causar ciúme no comandante do Itamaraty, malquisto pelo Congresso.

    Integrantes do Ministério da Agricultura afirmam que autoridades americanas já demonstravam confiança no produto brasileiro, mas temiam uma péssima repercussão da liberação. Eles avaliam que, para além do mercado importante, a liberação representaria uma chancela internacional de que a carne brasileira atende às especificações necessárias — o que era fundamental para o Brasil atingir outros mercados e firmar novos acordos comerciais. “Recebemos com muita satisfação uma notícia esperada há muito tempo: a reabertura do mercado de carne in natura do Brasil para os Estados Unidos”, diz a ministra no vídeo divulgado. “Isso traz a qualificação e qualidade da carne brasileira, reconhecida por um mercado importante como o mercado americano”, completa.

    No périplo para expandir as exportações brasileiras, a ministra se comprometeu a realizar campanhas elucidativas sobre os processos de produção agrícola em países da União Europeia, nas negociações para firmar o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. Para além desse aspecto mais, digamos, institucional, a ministra Tereza Cristina sabia que uma das maiores resistências ao acordo vinha dos tecnocratas da UE responsáveis pela segurança dos produtos agrícolas, e também da reação dos produtores sul-­americanos às suas exigências.

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    Ela agendou reuniões com seus principais representantes e falou grosso: cobrou o fim da inspeção de contêineres de carne nacional, o que encarecia o produto e tornava a proteína animal brasileira menos atraente para o consumidor europeu; e articulou a extinção do Princípio de Precaução, que impunha barreiras para a compra de mercadorias supostamente não condizentes com as recomendações do bloco europeu. Posteriormente, o acordo foi colocado em xeque pelas caneladas de Bolsonaro, seu chanceler, Ernesto Araújo, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles

    Operação Carne Fraca

    Deflagrada em julho de 2017, a Operação Carne Fraca desmantelou um esquema de fiscalização a base de propina nos frigoríficos brasileiros. As acusações, claro, eram gravíssimas — e culminaram na prisão de altos executivos, como o ex-presidente da BRF Pedro de Andrade Faria —, mas a divulgação de que o país não atendia a recomendações sanitárias mostrou-se, posteriormente, sensacionalista.

    Na ocasião, o estardalhaço em torno de episódios pontuais mostrou-se infundado, como VEJA apontou na matéria de capa daquela semana. Nada adiantou: os Estados Unidos suspenderam a importação de carne brasileira por, teoricamente, haver mais abcessos nas peças do que o permitido. Em resposta, o Ministério da Agricultura informou que os abscessos foram provocados pela reação à vacina contra a febre aftosa.

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    O então ministro da Agricultura, Blairo Maggi, chegou a viajar para os Estados Unidos para reverter a decisão e comprovar que o Brasil atingia os requisitos para que os Estados Unidos abarcassem a carne brasileira. Sem sucesso.

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