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EUA querem excedente de energia de Itaipu para IAs

EUA veem chance de explorar impasse entre Brasil e Paraguai por Itaipu; país vizinho usa só 17% da energia e quer vender excedente no mercado livre

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 Maio 2025, 14h40 - Publicado em 21 Maio 2025, 14h35

Em uma audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos nesta terça-feira, 20, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, lançou uma nova cartada na disputa geopolítica em torno do futuro de Itaipu: sugeriu que o excedente de energia da usina binacional, hoje controlado pelo Paraguai, poderia ser utilizado para impulsionar a indústria de inteligência artificial (IA) nos EUA.

“Alguém, se for inteligente, vai para o Paraguai e vai abrir uma indústria de IA”, afirmou Rubio, ao comentar o fim do acordo que, por décadas, garantiu ao Brasil a compra da energia que o Paraguai não consome. “Temos que discutir como investiremos em países que têm um suprimento de energia capaz de atender a essa demanda”, completou, em referência à oportunidade aberta com a reconfiguração do tratado energético entre os dois vizinhos sul-americanos.

A fala do secretário não é isolada, e tampouco ingênua. Ela surge em meio a um momento delicado das negociações sobre o Anexo C do tratado de Itaipu, que define as bases financeiras da tarifa da hidrelétrica. O acordo, que precisa ser renovado até o fim de maio, pode redefinir quanto cada país paga pela energia gerada e, mais importante, para quem o Paraguai poderá vendê-la. Um dos principais pontos de disputa é justamente o direito do país vizinho de negociar sua parte diretamente no mercado livre, e não apenas com o Brasil.

Pelo modelo atual, a geração de energia da usina é dividida meio a meio entre Brasil e Paraguai. Como os paraguaios consomem apenas cerca de 17% de sua cota, o restante é vendido ao Brasil a um valor fixado pelo Cuse (Custo Unitário dos Serviços de Eletricidade). Em 2024, os dois países firmaram um pré-acordo que autoriza a venda direta desse excedente para a indústria brasileira por meio do mercado livre – o que, em tese, poderia baratear custos e aumentar a eficiência do sistema. Mas as tratativas foram suspensas após denúncias de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria monitorado autoridades paraguaias envolvidas nas negociações. O escândalo provocou um abalo diplomático significativo e alimentou a desconfiança em Assunção, que já vinha desconfortável com a atuação do Brasil em apoio ao candidato do Suriname à presidência da Organização dos Estados Americanos (OEA), em detrimento de um nome paraguaio.

“Eles (os paraguaios) tinham um acordo de longo prazo com o Brasil, em que vendiam 50% da energia produzida. Esse acordo expirou, e agora estão tentando decidir o que fazer com essa eletricidade que não irá mais automaticamente ao Brasil. Eles não podem colocá-la em um navio e exportá-la, então alguém, se for esperto, vai instalar um data center no Paraguai”, insistiu Rubio, dando o recado com todas as letras: os EUA estão de olho no potencial energético ocioso da região.

A movimentação americana acendeu um sinal de alerta em Brasília, especialmente no Ministério da Fazenda. O ministro Fernando Haddad esteve nos Estados Unidos no início do mês para atrair empresas de inteligência artificial ao Brasil, oferecendo como trunfo a fartura de energia limpa e renovável, como a gerada por Itaipu. O plano, porém, pode ser frustrado caso o Paraguai decida vender seu excedente energético no mercado livre para estrangeiros, como os EUA. Sem a garantia de acesso a essa energia, a estratégia brasileira perde força, e competitividade.

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