Praticamente descartado há um ano por questões ideológicas com relação à China, um dos principais fornecedores da tecnologia no mundo, o projeto de implantação do sistema 5G foi retomado com a recriação do Ministério das Comunicações e a chegada de Fábio Faria ao cargo de ministro. Ao contrário de muitos de seus pares na Esplanada, ele arregaçou as mangas e conseguiu marcar sua gestão com uma entrega realmente importante. Em entrevista a VEJA, Faria explica os bastidores e os detalhes da negociação que deu origem ao segundo maior leilão de concessões na história do país, atrás apenas do megaleilão do pré-sal, em 2019.
Por que o leilão de 5G demorou tanto? Algumas coisas estavam paradas quando cheguei. O segredo foi atuar de forma mais política do que qualquer outra coisa. Colocamos o Tribunal de Contas da União para acompanhar nas viagens de apresentação da tecnologia. Tive várias reuniões com o pessoal do Supremo Tribunal Federal e do Congresso para explicar a importância desse assunto.
Como foi o contato com as operadoras e fornecedoras de equipamentos de telefonia? Fizemos muita propaganda lá fora, estivemos com os presidentes globais de empresas como a Qualcomm, da TIM, com os donos da Samsung, da Huawei, gestores de fundos gigantes como os do Catar. Só assim conseguimos fazer o maior leilão de telecomunicações da América Latina e o segundo maior da história do país, atrás somente do pré-sal, que arrecadou 69 bilhões de reais.
O modelo de leilão, no entanto, foi de não arrecadar o máximo possível, mas de exigir investimentos por parte das empresas. Como isso vai funcionar? Sem a infraestrutura para as empresas operarem, elas acabam ganhando menos dinheiro. O leilão não arrecadatório garante mais investimentos em infraestrutura para que, em poucos anos, tenhamos todo o país coberto pela nova tecnologia. Em outros países, como a Itália, a opção por fazer um leilão visando maior arrecadação acabou tendo problemas e deixando-os para trás.
Quais são as principais contrapartidas? A principal é conectar as pessoas sem internet. Temos 40 milhões de brasileiros sem internet, em 9 600 localidades. Além disso, haverá conexão em grande parte das estradas, o que vai ajudar na gestão de cargas, da fazenda aos portos ou aeroportos. Serão 48 000 quilômetros de estradas conectadas. Na educação, 72 000 escolas, ou 85% da rede pública do país, terão a internet 5G. Isso vai fortalecer muito a nossa educação e a capacitação dos talentos. Por último, já partiremos de cara com o 5G instalado em todas as capitais até o ano que vem.
Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2021, edição nº 2763