Tarifas devem ter impacto ‘pouco significativo’ no PIB de 2025, diz Fazenda
Declaração está no Boletim Macrofiscal, que elevou a projeção de crescimento da economia, mas ainda não considera efeitos do tarifaço

O Ministério da Fazenda fez uma leve revisão para cima sua projeção de crescimento do PIB em 2025, passando de 2,4% para 2,5%, segundo o Boletim Macrofiscal divulgado nesta sexta-feira, 11.
A revisão não leva em conta ainda efeitos do tarifaço de Donald Trump, que promete tarifas de 50% aos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, mas, segundo o documento, os efeitos devem ser ‘poucos significativos’, apesar dos efeitos na indústria de transformação.
“As exportações correspondem a cerca de 18% do PIB brasileiro. Do total exportado, aproximadamente 12% vão para os EUA. Produtos básicos respondem por maior parcela dos itens exportados ao país, com destaque para óleos brutos de petróleo, ferro, aço, celulose, café, suco de laranja e carne bovina. Alguns itens manufaturados também têm participação relevante na pauta de exportação brasileira para os EUA, como aeronaves e máquinas para o setor de energia. Produtos básicos tendem a ser redirecionados com mais facilidade a outros países e regiões que bens manufaturados. Considerando esse panorama, o impacto das tarifas tende a ser pouco significativo no crescimento de 2025, embora alguns setores da indústria de transformação possam ser especialmente prejudicados”, diz trecho do boletim.
A visão da Fazenda, porém, contrasta com a análise dos economistas do banco americano J.P Morgan, que estimam um efeito negativo de até 1,2% no crescimento do PIB do Brasil por ano por causa das novas tarifas-base de 50% anunciadas pelo presidente americano nesta semana.
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Revisão
Sem considerar efeitos do tarifaço, a revisão no PIB se deve, principalmente, ao mercado de trabalho aquecido no segundo trimestre, que deve segurar o consumo das famílias nos próximos meses, mesmo diante da política monetária ainda restritiva, com os juros no maior patamar em 20 anos. A expectativa do governo é de fechar o ano com déficit primário de 72,1 bilhões de reais, confirmando a deterioração das contas públicas. Em março, ao ser aprovada com relevante atraso a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025, a projeção era de superávit de 14 bilhões de reais.
Para rever o crescimento da economia brasileira, o governo avaliou que desempenho melhor do que o esperado no consumo, a revisão positiva nas estimativas do IBGE para a produção agropecuária, especialmente de milho, café, algodão e arroz , justificam o ajuste nas projeções. Possíveis efeitos da escalada das tarifas de Donald Trump, com a imposição das alíquotas de 50% para os produtos brasileiros nos Estados Unidos a partir de 1 de agosto ainda não foram incorporados. Segundo a Fazenda, o impacto direto da medida deve se concentrar em setores específicos e, por ora, tende a afetar pouco o cenário geral de crescimento. Para os anos seguintes, foi mantida a expectativa de crescimento próximo a 2,6%.
A estimativa de alta do PIB no segundo trimestre, no entanto, indica desaceleração em relação ao trimestre anterior: a projeção passou a ser de 0,6% na margem. A agropecuária deve registrar retração, enquanto indústria e serviços devem mostrar algum avanço. Pelo lado da demanda, espera-se desaceleração da absorção doméstica, com recuo nos investimentos e contribuição positiva do setor externo.
A projeção de inflação medida pelo IPCA em 2025 foi revisada de 5,0% para 4,9%, diante de leituras abaixo do esperado em maio e junho e da expectativa de câmbio mais favorável. A inflação projetada pelo governo estoura o teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).O centro da meta definida é 3%, com limite de tolerância até 45%. Para 2026, a projeção se manteve em 3,6%, dentro do intervalo da meta. As estimativas para INPC e IGP-DI também foram revisadas: o INPC de 2025 caiu de 4,9% para 4,7%, e o IGP-DI recuou de 5,6% para 4,6%.
Déficit fiscal
O Boletim Prisma Fiscal de julho projeta déficit primário de 72,1 bilhões de reais para 2025. O número está alinhado ao projetado em maio (72,1 bilhões de reais) e abaixo da estimativa de janeiro (84,3 bilhões de reais) do boletim.
A projeção para a dívida bruta (DBGG) como proporção do PIB caiu de 80,3% em maio para 80,0% em julho, mantendo a tendência de melhora frente aos 82,0% estimados em dezembro passado.
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