A montadora Fiat Chrysler (FCA), de capital italiano e americano, apresentou nesta segunda-feira, 27, uma proposta de fusão com a francesa Renault. O negócio, caso se concretize, tem potencial para criar o terceiro maior grupo mundial do setor automotivo.
De acordo com a proposta, o novo grupo pertenceria em 50% aos acionistas da empresa ítalo-americana e em 50% aos acionistas da montadora francesa. Segundo o comunicado da FCA, as ações teriam cotações nas Bolsas de Nova York e Milão.
O governo da França, principal acionista da Renault com 15% da fabricante, se mostrou favorável à proposta de fusão, mas afirmou ter de “olhar as condições nas quais o acordo será feito”, segundo a porta-voz Sibeth Ndiaye. “Esta é uma discussão que teremos, também como acionistas da Renault, com a companhia”, acrescentou ela.
O conselho de administração da Renault se reuniu nesta segunda-feira e explicou que pretende “estudar com interesse a oportunidade desta aproximação”, que vai gerar um “valor adicional para a aliança” com Nissan e Mitsubishi. Já o vice-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini, líder da Liga (partido de ultradireita), chamou a operação de “brilhante”. “Se a Fiat cresce, esta é uma boa notícia”, afirmou.
A Fiat Chrysler indicou que a linha de produção das duas empresas é “ampla e complementar, e daria uma cobertura completa ao mercado, do segmento de luxo até o segmento voltado para o grande público.
De acordo com analistas, as empresas poderiam compartilhar avanços tecnológicos. A Renault contribuiria com sua tecnologia para o desenvolvimento de motores elétricos, enquanto a Fiat Chrysler entraria com sua conta no mercado americano e seus veículos 4×4 e picape. A FCA calcular que a fusão geraria sinergias anuais superiores a 5 bilhões de euros (22,6 bilhões de reais), que seriam adicionadas às já existentes no âmbito da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.
Terceiro maior grupo do mundo
A Fiat Chrysler destacou que a fusão criaria o terceiro maior grupo automobilístico do mundo, com vendas anuais de 8,7 milhões de veículos e “uma forte presença em regiões e segmentos chave”, atrás apenas da Volkswagem (10,6 milhões) e da Toyota (10,59 milhões). A contabilização dessas estatísticas provoca controvérsias no mercado automotivo, já que as fabricantes utilizam de diferentes métodos para tal.
Se somarmos os números da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, por exemplo, ele se constituiria o maior grupo automobilístico mundial em termos de volume de vendas, com quase 10,76 milhões de unidades comercializadas ano passado. Em caso de acréscimo dos números da Fiat-Chrysler, a aliança estabeleceria uma grande distância para os rivais, com quase 16 milhões de veículos.
A Renault (com marcas como Dacia, Lada, Alpine) vendeu no ano passado 3,9 milhões de veículos, a Nissan 5,65 milhões e a Mitsubishi Motors 1,22 milhões de unidades.A Fiat Chrysler, que tem 13 marcas (incluindo Jeep, Alfa Romeo, Dodge, Ram ou Ferrari), vendeu 4,8 milhões de veículos em 2018.
A proposta inicial da Fiat Chrysler, no entanto, só prevê a aliança com a Renault. Pelo menos por enquanto.Nos bastidores, diz se que a fusão foi pensada ainda quando Carlos Ghosn presidia a aliança entre as três montadoras. O executivo foi detido no fim de novembro em Tóquio, o que provocou uma crise entre a Renault e a sócia japonesa Nissan, que estava por trás das revelações que desencadearam a investigação.
Uma suposta aliança entre as quatro fabricantes mudaria profundamente a relação de forças dentro da união Renault-Nissan-Mitsubishi, reforçando a parte francesa. A Renault pressionou nas últimas semanas para uma aliança fortalecida com a Nissan, com a criação de uma holding 50-50 para as duas empresas. Os japoneses rejeitaram categoricamente o plano, alegando que não levava em consideração seu peso maior que o da Renault.
(Com AFP)