Gasolina mais cara? Quanto o combustível teria que subir para compensar a defasagem
ICMS aumentará o preço dos combustíveis em 1º de fevereiro, mas há outras pressões por reajustes

Os combustíveis ficarão mais caros a partir de 1º de fevereiro. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre gasolina e etanol terá um acréscimo de 10 centavos por litro, elevando a alíquota para 1,47 real. O diesel e o biodiesel também serão impactados, com um aumento de 0,06 centavo por litro, chegando a 1,12 real — representando elevações de 7,1% e 5,3%, respectivamente.
Embora a Petrobras não siga mais o Preço de Paridade Internacional (PPI), mantendo certa autonomia em relação ao mercado global, as defasagens nos preços domésticos são significativas. De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a diferença entre o preço praticado pela Petrobras e o valor no mercado internacional chega a 85 centavos por litro no diesel (24%) e a 37 centavos na gasolina (13%). “Sem dúvida isso aumenta a pressão para reajustes”, diz Sérgio Araújo, presidente da Abicom.
Segundo a entidade, os reajustes devem ser aplicados, de forma a dar maior segurança para a importação dos volumes necessários para completar o atendimento das demandas, bem como para não prejudicar as precificações dos produtos dos produtores privados.
O último reajuste na gasolina ocorreu em julho do ano passado. Segundo a Genial Investimentos, o preço médio nas refinarias da Petrobras permaneceu em 3,05 reais por litro para a gasolina e 3,68 reais para o diesel desde então. “Nossas estimativas indicam que, para que os preços estivessem mais próximos do mercado global, a gasolina deveria custar cerca de 3,19 reais e o diesel 4,37 reais”, observa a instituição. Isso significa que a gasolina deveria ter um aumento de 4,5% e o diesel de 18%. Dessa forma, a pressão para ajustes permanece forte, com analistas apontando que o diesel, em particular, poderia sofrer um aumento de até 15% para recuperar parte da defasagem.
Esse cenário de descompasso entre os preços praticados internamente e a realidade internacional também afeta os resultados da Petrobras. O segmento de refino, transporte e comercialização (RTC), responsável por 10% a 14% do Ebitda da empresa, enfrenta margens mais apertadas devido à manutenção de preços abaixo do mercado global.
O preço dos combustíveis já vem sendo pressionado pela valorização do dólar, que recentemente ultrapassou a marca de 6 reais. O aumento no ICMS sobre gasolina, etanol, diesel e biodiesel adiciona uma nova camada de pressão, tornando inevitável o repasse aos consumidores nas bombas. O problema é que elevações no preço dos combustíveis têm um efeito cascata sobre a economia, impactando diversos setores e contribuindo para o aumento generalizado da inflação.
A gasolina, em particular, desempenha um papel significativo no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no país. Em 2024, entre 377 subitens, a gasolina registrou o maior impacto individual, com uma alta acumulada de 9,71% ao longo do ano.
Essa tendência de alta já levou o banco Itaú a revisar sua projeção de inflação para 2025, elevando-a de 4,2% para 5%. A revisão considera, sobretudo, os efeitos da depreciação do real sobre os preços de bens industriais, a persistente pressão sobre os serviços e, agora, o impacto do aumento do ICMS sobre os combustíveis. Com a economia já fragilizada, o encarecimento dos combustíveis pode se transformar em um fator ainda mais desestabilizador para o cenário inflacionário.