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Gigante britânica Tesco sofre boicote por comprar carne ligada a JBS

Varejista compra proteína de frango e suína de empresas ligadas ao frigorífico brasileiro; pressão contra o desmatamento é crescente no agronegócio

Por Larissa Quintino Atualizado em 5 ago 2020, 12h12 - Publicado em 5 ago 2020, 10h15

A rede de supermercado britânica Tesco está enfrentando pressão de grupos ambientalistas para deixar de comprar da JBS, maior produtora de carne do mundo, devido a indicativos de vínculos da empresa brasileira com o desmatamento na Amazônia. A campanha online de boicote contra a Tesco, convocada pelo Greenpeace, ocorre a partir desta quarta-feira, 5. Nesta semana, reportagem de VEJA que traz o ranking dos dez maiores desmatadores da Amazônia traz entre os líderes do ranking fazendas que fornecem a grandes frigoríficos brasileiros, como a JBS.

A pressão contra o desmatamento ilegal da região amazônica, aliás, deve impor cada dia mais dificuldades ao agronegócio brasileiro, um dos motores da economia do país. A pressão de clientes à rede britânica ocorre porque, embora apenas uma pequena porcentagem das importações de carne bovina do Reino Unido seja proveniente da região amazônica, a Tesco é um cliente-chave do fornecedor de aves Moy Park Holdings e da processadora de suínos Tulip Ltd., ambas pertencentes a JBS, mas que atuam em território europeu.

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O Greenpeace acusa a varejista britânica de não combater o desmatamento. Segundo a Bloomberg, a Tesco afirmou que apoia a causa de acabar com o desmatamento, mas continuará o relacionamento com as fornecedoras de carne de frango e suína. Em comunicado, o executivo-chefe do grupo Tesco, Dave Lewis, disse que o grupo, que contém 27% da fatia de mercado do Reino Unido, não compra carne do Brasil proveniente de área desmatada e pediu para o governo britânico que obrigue as empresas a rastrear suas cadeias de suprimentos. “Estamos fazendo progressos tangíveis, mas não podemos resolver isso sozinhos”, disse Lewis. 

Questionada, a JBS afirmou que todas as suas subsidiárias aderem “rígidas políticas de compras responsáveis em todas as suas cadeias de suprimentos e compartilham de nosso propósito de eliminar o desmatamento definitivamente”. A empresa afirmou que está comprometida com o fim do desmatamento e tem liderado o setor em medidas para aprimorar a rastreabilidade da cadeia de suprimentos no Brasil. 

Como VEJA mostrou, o campeão de multas ambientais por causa do desmatamento, Edio Nogueira, é proprietário da Fazenda Cristo Rei, que está a 18,5 quilômetros do limite com o Parque Nacional do Xingu. Seu dono está sendo processado por ter ceifado quase 24 000 hectares de mata nativa. A fazenda pertence a Agropecuária Rio da Areia, de propriedade de Nogueira, e que em seu site diz atender alguns dos maiores frigoríficos do país, como a JBS, a Marfrig e a Minerva — todas empresas que possuem selos de sustentabilidade e de respeito à preservação da Amazônia. E esse tipo de confusão, como bem diz a reportagem, vem estraçalhando a imagem do país lá fora e pode provocar fuga de capitais e suspensão de novos investimentos.

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A pressão contra o desmatamento fica cada dia mais latente nos gigantes do agronegócio brasileiro. Na semana passada, a gestora de investimentos norueguesa, Nordea Asset Management, retirou a JBS da sua carteira de investimentos, citando o histórico ambiental da processadora de carne. Os boicotes ao agronegócio brasileiro vem ganhando força. No início de julho, a maior empresa de processamento de alimentos da China, a Cofco International, anunciou que vai rastrear o processo de produção da soja proveniente do Brasil. A  fiscalização visa a reduzir os danos ambientais no cerrado, a principal região de plantio no país. Uma das maiores produtoras de salmão do mundo, a empresa norueguesa Grieg Seafood excluiu uma subsidiária da Cargill de sua lista de fornecedores por ligações com o desmatamento ilegal no cerrado e na Amazônia. Além disso, um grupo de 29 empresas de investimento de nove países, que juntas administram 3,7 trilhões de dólares, enviou uma carta a diplomatas brasileiros pedindo reuniões para debater a política ambiental do governo Bolsonaro.

Com a imagem em chamas, o governo de Jair Bolsonaro tenta correr contra o tempo para mostrar uma postura aliada a preservação ambiental. O governo proibiu os incêndios na região por quatro meses após a pressão de investidores estrangeiros e o Ministério da Agricultura faz campanha internacional para mostrar que o agronegócio aqui segue regras de preservação e que os produtos vendidos não partem da Amazônia. 

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