Guedes quer aprovar parte da reforma em 2018 e uma nova depois
Segundo ele, um novo sistema, baseado no regime de capitalização, será proposto para as futuras gerações de trabalhadores do Brasil
O economista Paulo Guedes, principal assessor econômico do presidente eleito Jair Bolsonaro, defendeu a aprovação da proposta de reforma da Previdência que está no Congresso Nacional ainda este ano. O economista frisou que apoiava a reforma antes de passar a coordenar o programa econômico de Bolsonaro e não mudaria de ideia. Segundo Guedes, porém, novas reformas serão necessárias no próximo governo.
“Trabalharam dois anos nessa reforma. Passei dois anos dizendo: ‘aprovem a reforma da Previdência’. Evidente que não posso, só agora que passei para o governo, dizer ‘não aprovem a reforma da Previdência'”, afirmou Guedes.
Segundo ele, um novo sistema será proposto para as futuras gerações. “Vamos criar uma nova Previdência com regime de capitalização, mas existe uma Previdência antiga que está aí. Então, além do novo regime trabalhista e previdenciário que devemos criar para as futuras gerações, temos que consertar essa que está aí”, disse o economista.
No modelo de capitalização, cada trabalhador contribui para pagar a própria aposentadoria no futuro. O regime atual é o de repartição, em que os trabalhadores da ativa, os mais novos, contribuem para o pagamento da aposentadoria dos mais velhos, já inativos. Na maioria dos países, o modelo adotado é o de repartição.
O assessor de Bolsonaro não detalhou negociações com o governo Michel Temer em torno da aprovação da atual proposta de reforma da Previdência como está no Congresso. Para retomar a reforma da Previdência ainda neste ano, seria preciso suspender a intervenção federal na área de segurança pública do Estado do Rio.
Bolsonaro disse ontem em entrevistas de TV que pretende aprovar uma parte da reforma ainda neste ano. “Na semana que vem, estaremos em Brasília para um encontro com Temer. Se der para aprovar alguma coisa da reforma da Previdência, o todo ou parte, evitaria um problema para o futuro governo”, disse Bolsonaro em entrevista para a TV Record.
Temer também vem defendendo essa ideia, a de deixar a ‘estrada estará inteiramente asfaltada para o próximo governo”, referindo-se à reforma da Previdência.
Modelo chileno
Guedes disse apenas que já se reuniu com o secretário de Previdência do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, a quem chamou de “excelente técnico”, para examinar a proposta atual.
“Depois tive reuniões com os irmãos (Arthur e Abraham) Weintroub, que estão fazendo uma proposta bastante semelhante à do Chile”, afirmou o assessor, elogiando o modelo do sistema previdenciário chileno, que fomentou a acumulação de capital e o aumento da produtividade.
“Trinta anos atrás, quando o Chile fez reforma da Previdência, seria melhor. Dois anos atrás, com o presidente Michel Temer, seria melhor. Um ano e meio atrás, quando entrou o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, seria melhor. Hoje, antes de acabar o ano, é bom também”, disse Guedes.
Conforme Guedes, o sistema previdenciário brasileiro tem “bombas”: a primeira é demográfica, a segunda é misturar assistência social com aposentadoria do trabalho, a terceira são os custos tributários sobre a folha de pagamentos dos empregados, a quarta é o fato de o sistema previdenciário de repartição não “levar capital para o futuro”.
Ele desautorizou Onyx Lorenzoni, indicado para chefiar a Casa Civil do futuro governo, a falar sobre assuntos da área econômica. Recentemente, Lorenzoni fez comentários sobre política cambial e reforma da Previdência.
“Houve gente do próprio futuro governo falando que não tem pressa de fazer reforma da Previdência. O jornalista que fez a pergunta está dizendo que o Onyx, que é coordenador político, falou de banda cambial. Ao mesmo tempo, está dizendo que o Onyx falou que não tem pressa na Previdência. Aí o mercado cai. Estão assustados por quê? É um político falando de economia. É a mesma coisa do que eu sair falando de política. Não dá certo, né?”, afirmou.
Independência do BC
Guedes disse que o futuro governo mandará um projeto para dar independência ao Banco Central (BC). Segundo ele, a atual transição de governo será a última em que haverá incerteza sobre o comando da autoridade monetária.
“Daqui para a frente, como vamos aprovar a independência do Banco Central (BC), saberemos que essa fonte de incerteza o comando do BC será eliminada. Essa é a ultima transição que tem essa incerteza”, afirmou.
Guedes frisou que a independência do BC será aprovada em projeto de lei. “A essência desse projeto são mandatos não coincidentes” disse o economista.
(Com Estadão Conteúdo)