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Há mais propaganda de bancos que empréstimo real, diz presidente do Sebrae

Carlos Melles, chefe da entidade de apoio ao micro e pequeno negócio, defende mais crédito de capital de giro para evitar que empresas desapareçam na crise

Por Larissa Quintino Atualizado em 19 Maio 2020, 16h51 - Publicado em 19 Maio 2020, 16h42

Base da economia brasileira, os micro e pequenos negócios sentiram em primeiro instante o impacto econômico da pandemia causada pelo coronavírus e correm para tentar evitar consequências maiores, como o desmonte dos negócios. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 89% do setor sofre com queda no faturamento devido à pandemia. O órgão não trata sobre a necessidade de flexibilização ou não das medidas de distanciamento social, mas foca na tentativa de concessão de capital de giro para que as empresas mantenham a mínima saúde financeira e consigam atravessar a crise sem desaparecer.

Em entrevista a VEJA, o presidente da entidade, Carlos Melles, afirma que, mesmo com linhas de crédito que garantem parte dos recursos aos bancos, como o da lei que foi sancionada nesta terça-feira, 19, que define que 85% do empréstimo para micro e pequena empresa é garantido pela União e uma outra linha em que 80% é garantido pelo próprio Sebrae, não gera apetite de risco aos bancos. Com isso, o acesso a financiamento limitado dificulta a situação dos pequenos empresários.

Como a pandemia afeta a saúde dos pequenos negócios?  Nós temos um exército produtivo no país, liderado por esses micro e pequenos empresários, que são a base da cadeia produtiva brasileira. Antes da crise, 50% desses negócios tinham a situação financeira equilibrada. Um quarto estava de equilibrado para bem, e outros 25% de equilibrado para ruim. A crise fez com que cerca de 89% das empresas diminuíssem o faturamento. Ou seja, afetou quase todo mundo. Um dos grandes problemas é que grande parte dos empregos do Brasil é gerada por micro e pequenas empresas. A tentativa é de manutenção desses empregos mesmo com toda a paralisia gerada pela crise.

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Qual é o maior problema enfrentado pelos pequenos empresários atualmente?  O que tem faltado muito – e que já era escasso antes da pandemia – é o crédito, especialmente o de capital de giro. A parte tributária foi ajustada, com a prorrogação de impostos federais por seis meses, há renegociação de pagamento com fornecedores e também de aluguel, mas falta capital de giro. Esse quesito, que é complicado para todos nós, afeta especialmente empresas com faturamento de 80 mil reais a 360 mil reais. Cerca de 80% das companhias que buscam crédito não têm acesso. O conjunto de medidas trabalhistas do governo, com a possibilidade de corte de jornada, suspensão de contrato, antecipação de férias e feriados, ajudou. Renegociação de contratos com bancos e de contratos com fornecedores, também. Mas é preciso dinheiro para esse capital de giro, para que o empresário consiga tocar o seu negócio.

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O que é preciso fazer para esse crédito chegar? O momento com a crise não é bom. Ainda que o sistema financeiro tenha boa vontade, ele tem aversão ao risco. Há uma linha de crédito, o Fundo de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Fampe), que tem garantia de 80% pelo Sebrae. No entanto, esses 20% que ficam de fora dificultam muito o acesso. A micro e pequena empresa que tem outras garantias para dar tem tido acesso ao crédito e com taxas baixas, inclusive. Há uma outra linha, o Pronampe [sancionada nesta terça-feira pelo presidente Jair Bolsonaro] com garantia de 85%. Em um momento de crise, a garantia precisaria ser de 100%, porque 80% não basta. Acho que mais uns 15, 20 dias, um mês, precisaremos rever com o Tesouro essas garantias do risco da operação.

Além da acessibilidade, o custo do crédito é um problema? Nós temos 122 linhas cadastradas, de crédito para micro e pequena empresa. Existe um cardápio enorme com taxas que saem de 1%. Arriscaria a dizer que a taxa de juros não é o limitante nessa crise. A limitação é mesmo o acesso ao crédito. Estamos buscando formas para que essa acessibilidade fique mais palatável aos bancos, como crédito orientado e também o Sebrae se colocando como correspondente, para que a empresa não vá sozinha até o banco, e sim junto com o Sebrae para mostrar que há um plano para esse recurso. Tornar esse crédito acessível é uma preocupação do Ministério da Economia, do Banco Central e do Sebrae. O universo é tão grande que não interessa muito aos grandes bancos esse negócio de micro e pequena empresa. Às vezes, há mais volume de propaganda que empréstimo real.

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Há alguma outra forma, além da garantia dada por fundos e pelo governo, para fazer esse dinheiro chegar? Nós estamos estudando com as empresas de maquininhas uma forma de garantia do que for empresado. Está em estudo algo como o crédito consignado [desconto feito direto na folha de pagamento para trabalhadores formais e aposentados do INSS]. Há um mecanismo na maquininha que pode fazer um desconto após cada venda, e essa seria uma forma de dar mais segurança para quem empresta, porque é possível haver o pagamento após cada compra.

As medidas de distanciamento social dificultaram a continuidade de funcionamento de muitos pequenos negócios. Outros, para continuarem a trabalhar, passaram do dia para a noite a usar tecnologias para seguir vendendo ou prestando serviço. Essa digitalização será o grande legado da pandemia? Sem sombra de dúvida. O brasileiro, graças a Deus, tem uma capacidade muito grande de se reinventar, e é isso que está sendo feito na crise. Há alguns setores que dependem de atendimento presencial, como salões de beleza e turismo. O vestuário, que depende menos, já está usando ferramentas digitais para conversar com clientes e tentar vender. O mesmo vale para alimentação, com o delivery. Outro legado importante é a capacidade de atender bem o cliente. As vendas por canais digitais democratizam a oportunidade, e quem atender melhor o cliente tem mais oportunidades.

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