O surto do novo coronavírus (Covid-19) pode fazer com que parte da produção de veículos no Brasil seja interrompida em março. Com a paralisação de fábricas na China, maior fornecedor de autopeças para o setor automobilístico do país, as montadoras com atuação local podem começar a sofrer com a falta de componentes – algo que por ora não acontece, ressalta-se. O receio foi compartilhado na manhã desta sexta-feira, 6, em evento organizado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
“As empresas estão monitorando isso, agindo para evitar a possibilidade de parada. A nossa expectativa é de que não chegue a esse ponto, porque a produção da China está retomando”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. Segundo o executivo, o risco acontece por causa da importação de peças e componentes de outros países. Montadoras com produtos vindo da China, por exemplo, já estão com problemas. “Mas o problema não é o mesmo para cada montadora. Tem empresa que importa peças da China, e tem empresa que importa de fornecedores que importam da Ásia também. Existe um risco e nós estamos administrando isso. No pior cenário, se a produção parar, podemos recuperar no mês seguinte”, complementou.
O anúncio veio acompanhado de outra notícia indigesta. A associação informou que a produção de veículos caiu 20,8% em fevereiro, na comparação com igual período do ano anterior. É o pior índice de volume de produção de veículos para o mês dos últimos quatro anos. No primeiro bimestre de 2020, a retração foi de 13,4%, com 396.000 unidades produzidas. O número de automóveis licenciados, por sua vez, recuou 1%, caindo de 398.400 unidades em 2019, para 394.500 unidades este ano.
O tombo na produção de veículos pode ser explicado, em partes, pela exportação, que também registrou queda para o período. No primeiro bimestre de 2020, as exportações caíram 11,2% em relação aos dois primeiros meses do ano anterior. Além disso, empresários do setor não esperavam que o dólar se valorizasse tanto em pouco tempo, o que alavancou os custos das montadoras no país. “A queda da produção no país acende um sinal amarelo. Estamos exportando menos por conta da crise vivida por países como Argentina, Chile e outros mercados da América do Sul”, disse Milad Kalume Neto, da consultoria automotiva Jato Dynamics.
Lentidão na retomada
No evento, Moraes, da Anfavea, questionou a morosidade do governo brasileiro para avançar com reformas. “A reforma administrativa tem que vir o mais rápido possível, para que o país consiga avançar com a reforma tributária, posteriormente. Não será uma tarefa fácil, mas é algo importante para estimular o crescimento do país”, disse.
Além disso, o executivo afirmou que o país poderia estar aproveitando-se da alta do dólar para viabilizar exportações para novos mercados, como a Europa. “Um país que exporta pouco não consegue crescer. Nosso portfólio tem um padrão muito bom, uma qualidade boa, então por que não exportamos? Vamos ficar exportando apenas minério de ferro e outras commodities? São importantes, mas o país não pode viver apenas disso”, disparou.
A Anfavea estima que a exportação para este ano chegue a algo próximo de 400.000 unidades. Ou seja, uma projeção muito aquém dos números de 2019, quando a exportação de veículos já registrou queda de 31,9% em relação a 2018, somando 428.200 unidades exportadas. Se, por um lado, o dólar poderia dar tração a esses números, por outro, a variação cambial deve fazer com que menos veículos sejam importados este ano. Em janeiro, a Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa) identificou o licenciamento de 2.408 veículos, queda de 2,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram vendidos 2.475 carros importados.