Indústria cresce, mas sente perda de fôlego: demanda enfraquece e emprego recua no fim de 2025
Emprego na indústria cai a 48,8 pontos em outubro e segue com perspectiva negativa; expectativa de demanda recua 1,2 ponto para os próximos seis meses
A indústria brasileira chegou ao fim de outubro e início de novembro de 2025 com sinais mistos. De um lado, a produção aumentou e os estoques ficaram praticamente alinhados ao que as empresas planejavam. De outro, o mercado de trabalho industrial perdeu força e os empresários estão menos confiantes sobre os próximos meses. Os dados integram a Sondagem Industrial divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em outubro, o índice que mede a evolução da produção marcou 51,5 pontos, resultado que indica crescimento, já que valores acima de 50 significam avanço da atividade. A utilização da capacidade instalada (UCI) também subiu um ponto percentual, de 70% para 71%. Apesar da alta, esse nível ainda é menor do que o observado no mesmo mês do ano passado, quando a UCI estava em 74%.
Os estoques, que frequentemente servem como termômetro da saúde da produção, apresentaram comportamento considerado positivo pelos analistas. O ritmo de acúmulo diminuiu e o nível efetivo ficou muito próximo do planejado pelas empresas, o que evita a necessidade de cortes abruptos na produção ou promoções agressivas para desovar mercadorias.
O mercado de trabalho industrial mostrou o ponto mais fraco do levantamento. O índice de evolução do número de empregados ficou em 48,8 pontos, abaixo de 50, o que indica queda no total de trabalhadores em relação a setembro. A perspectiva para os próximos meses também não é animadora. O índice de expectativa de emprego caiu novamente em novembro, de 49,3 para 49,1 pontos, registrando o quarto mês seguido em que os industriais projetam redução nas contratações.
Segundo a CNI, isso reflete preocupação com o enfraquecimento da demanda. O elemento central por trás desse movimento é a desaceleração das vendas. O índice que mede a expectativa de demanda para os próximos seis meses caiu 1,2 ponto, para 51,3, o menor valor para um mês de novembro desde 2016. Embora o indicador ainda esteja acima de 50, o ritmo previsto é menor que o típico para o período que antecede as festas de fim de ano. “As empresas vêm registrando menor procura por seus produtos e, por isso, esperam que o aumento sazonal das vendas no fim de 2025 seja mais fraco que o normal”, explicou Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI.
Com menos confiança na demanda futura, os empresários também estão mais cautelosos nas compras de insumos e matérias-primas. O índice referente a esses itens caiu de 51 para 50 pontos, indicando que a perspectiva de expansão deu lugar à expectativa de estabilidade. O cenário externo também pesa. A expectativa de exportações caiu de 48,6 para 48 pontos, reforçando o pessimismo com o comércio internacional. O recuo reflete tanto o menor crescimento global quanto custos logísticos e incertezas nos mercados que tradicionalmente compram produtos brasileiros.
Em meio aos indicadores mais fracos, a intenção de investimento foi o único dado positivo entre as expectativas. O índice avançou para 55,2 pontos, registrando a segunda alta consecutiva. Ainda assim, permanece abaixo do patamar observado no fim de 2024, após um ano marcado por quedas sucessivas. Essa recuperação parcial indica que parte das empresas está retomando projetos, ainda que com cautela.
A sondagem, que ouviu 1.446 empresas de diferentes portes, mostra que a indústria brasileira chega ao último bimestre do ano crescendo, porém com preocupações claras. A desaceleração da demanda, tanto interna quanto externa, deve definir o ritmo do setor nos primeiros meses de 2026.







