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Inflação com estouro da meta eleva pressão para Selic em 12%

O mercado já precifica uma nova alta, possivelmente de 0,75 ponto percentual, na próxima reunião do Copom, marcada para dezembro

Por Luana Zanobia Atualizado em 8 nov 2024, 15h13 - Publicado em 8 nov 2024, 11h55

Na quarta-feira, 6, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central acelerou o ritmo de alta da taxa de juros, elevando a Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,25%. Um dia após a decisão, a divulgação do IPCA de outubro confirmou que a estratégia de apertar mais as rédeas monetárias foi acertada. A inflação oficial do país avançou 0,56% no mês, 0,12 ponto percentual acima do 0,44% registrado em setembro. Com isso, o IPCA atingiu 4,75% no acumulado de 12 meses, superando o teto da meta de 4,5%.

O aumento da inflação reforçou as expectativas de que o ciclo de aperto monetário continuará. “A trajetória da inflação permanece em níveis elevados, dificultando o processo de reancoragem das expectativas futuras”, afirma Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.

O mercado já precifica uma nova alta, possivelmente de 0,75 ponto percentual, na próxima reunião do Copom, em dezembro, em um esforço para controlar o avanço inflacionário. Se confirmada essa magnitude na última reunião do ano, a Selic passaria para 12%.

Dois setores em particular exerceram pressão significativa sobre o índice de outubro: habitação e alimentação. No primeiro, a alta de 4,74% nas tarifas de energia elétrica, resultado da bandeira vermelha patamar 2, foi o principal fator de pressão. Esse aumento é reflexo da crise hídrica, que eleva os custos de geração de energia. Já o setor de alimentação sentiu o impacto de fatores climáticos adversos e da maior demanda por exportações, especialmente de carnes, cujos preços subiram 5,81% em outubro, o maior aumento desde novembro de 2020.

O Copom, em seu comunicado após a última reunião, manteve uma postura clara de cautela, reconhecendo os riscos de desancoragem das expectativas inflacionárias. A preocupação do colegiado é que a inflação não apenas permaneça elevada, mas que fatores adicionais, como a desvalorização cambial e a inflação de serviços, mantenham a pressão sobre os preços no médio prazo. Com a economia ainda em recuperação, a inflação nos serviços se tornou um ponto crítico, uma vez que o setor responde por uma fatia significativa do consumo e dos preços no Brasil.

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A sazonalidade do fim de ano agrava o cenário. Victor Furtado, chefe de alocação da W1 Capital, alerta que o período de festas, com mais viagens e maior demanda por bens e serviços, pode adicionar novas pressões inflacionárias nos próximos meses. “A preocupação se torna ainda maior não só pelo fato de a inflação ter superado o teto da meta, mas também porque temos uma sazonalidade grande nesse período, o que deve pressionar o índice ainda mais”, explica Furtado.

Outro fator de pressão vem da alta do dólar, que encarece os produtos importados e contribui para o aumento dos preços de bens duráveis e insumos. Embora exista a expectativa de algum alívio nos preços da energia com a volta das chuvas, Furtado avalia que o Banco Central precisará manter uma política monetária restritiva para que os preços voltem a se alinhar às metas de inflação. “O BC terá que continuar elevando a Selic para conter a desancoragem e reforçar a credibilidade da política monetária”, conclui.

O desafio do BC nos próximos meses será equilibrar o combate à inflação sem sufocar a economia. O IPCA de outubro mostrou que a luta contra a alta dos preços ainda está longe de acabar, e que o BC — apesar das duras críticas do governo sobre os juros elevados — está cumprindo sua função de buscar ancorar a inflação na meta. Agora, a responsabilidade recai sobre o governo, que precisa demonstrar comprometimento fiscal e cumprir a promessa de zerar o déficit. O mercado aguarda com grande expectativa o pacote de corte de gastos, que reuniu integrantes do governo ao longo da semana com o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

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