Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Inflação: O que a história tem a ensinar para Bolsonaro

O controle artificial de preços pode ser mais nocivo ao país e descambar no descontrole generalizado

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 15h21 - Publicado em 14 set 2020, 17h55
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Inflação. Os brasileiros vividos na década de 1980 têm pavor das manchetes de jornal que grafam a palavra. E não é para menos. Aos galopes, os preços nos supermercados quase dobravam de um mês para o outro, provocando correrias e a ruína do poder de compra da população. Foram planos e mais planos para, finalmente, com o Plano Real, o dragão ser amansado. Mas o presidente Jair Bolsonaro é, no mínimo, mais criativo. Com o arroz na boca (e não no estômago) do povo graças à escalada de preços, o presidente fez um apelo aos mercadores, pedindo “patriotismo” para driblar o aumento. O ímpeto de intervir virou lambança dentro do governo. A Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça notificou a Associação Brasileira de Supermercados e produtores de alimentos e cobrou, em até cinco dias, explicações sobre o aumento do preço de itens da cesta básica. Sensatamente, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, reagiu, dizendo que não haverá tabelamento de alimentos. Ainda bem. “Os preços não sobem por uma existência de cartel ou monopólio de mercado, é um movimento estacional”, diz Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda. “Mercado não tem patriotismo e aumento não é pauta policial”, completa ele.

    Sarney e Dilma: montados sobre uma crise sem fim
    Sarney e Dilma: Exemplos claros de que caminhos não seguir (VEJA.com/VEJA/VEJA)

    A resposta veio com o Ministério da Economia, que buscou entender os motivos para a cobrança do ministro  da Justiça, André Mendonça. “O brasileiro criou uma cultura de criminalização do lucro, não faz sentido. Temos, culturalmente, que lucrar é criminoso, que parte da nossa culpa católica”, diz Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda. E, para além dos louros políticos, a longo prazo, a mão grande do poder público nos mercados sempre acarreta em péssimas consequências. Até meados dos anos 1990, uma invencionice da ditadura persistia: o tabelamento de preços por meio do Conselho Interministerial de Preços (CIP) e a Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB), além da proibição de exportar produtos, para coibir os aumentos, parte, é claro, da lambança que os órgãos regulatórios, finalmente, vieram a substituir. O exemplo mais recente dos custos para o país de se flertar com o populismo econômico está na gestão de Dilma Rousseff. A canetada nas áreas de energia e combustíveis fez o Brasil amargar a conta anos depois, resultando em um processo de deterioração deliberada de ativos, em 2017, chamada impairment, para diminuir os prejuízos.

    Economia - Consumo - Inflação - produtos - Pib
    Arroz: o inimigo da vez à mesa do brasileiro (Reinaldo Canato/VEJA.com)
    Continua após a publicidade

    Enquanto motiva o ministro da Justiça a fiscalizar as gôndolas, o presidente mostrou o mínimo de sensatez na tradicional transmissão ao vivo na quinta-feira 10. “Posso tabelar? Não pode. Mexe no mercado e fica pior. Não vou interferir no mercado, tem que valer a lei da oferta e procura”, disse Bolsonaro. Apesar do desespero em relação à alta dos preços nos supermercados ter chegado ao Palácio do Planalto, o ambiente inflacionário do país está longe de ser preocupante. A ministra da Agricultura tem repetido aos consumidores que a alta nos preços de alimentos é um movimento passageiro. E ela tem razão. Nesta segunda-feira, 14, o índice inflacionário medido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, apontou que, em agosto, para famílias mais pobres, a variação de preços apontou alta de 0,38%, enquanto a parcela de renda mais alta da população percebeu deflação de 0,1%. “A inflação não voltou a ser um problema. O fato de o arroz ter subido não significa uma variação alta nos preços como um todo”, diz o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira. Os resultados, dizem ex-ministros, é motivado pelo movimento acertado do governo federal no amparo aos mais vulneráveis, com o pagamento do auxílio emergencial e a demanda reprimida causada pela pandemia de Covid-19. 

    Bresser-Pereira foi um dos responsáveis pela tentativa de doma do malfadado dragão. Depois de o país amargar o fracasso do Plano Cruzado, a variação dos preços voltou a ser preocupação central no Ministério da Fazenda. Em junho de 1987, Bresser-Pereira anunciou o plano de estabilização que levava seu nome, o Plano Bresser, que previa o congelamento, por 90 dias, de preços, salários e do câmbio, como uma bala de prata para, finalmente, controlar a inflação. Como nas outras duas tentativas do presidente José Sarney, deu errado. Para fins imediatistas, o plano foi um sucesso. Amargando mais de 26% no mês inicial, o IPCA caiu para 3,1% no mês seguinte. Em agosto, a inflação voltou a subir e alcançou 6,4%. É o risco que corre Bolsonaro. “Pode demorar mais dois ou três meses, é normal. Quando o governo se mete a fazer controle, aí, sim, teremos um problema”, diz Delfim Netto. O movimento mais sensato de Bolsonaro envolve segurar seu ímpeto e deixar o mercado correr livremente. A alternativa, mostra a história, deixa a conta mais cara. 

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.