‘Infoxicação’: CEO da Newnew fala sobre desafio de requalificar pessoas distraídas
Requalificação profissional é urgente, mas há uma crise de aprendizagem, diz Mariana Achutti

A mudança tecnológica é um dos principais fatores que vão transformar o mercado de trabalho nos próximos anos. Segundo o estudo do “Futuro do Trabalho”, publicado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), 65% dos profissionais consideram a requalificação, bem como a busca por novas habilidades como essencial para manter a empregabilidade nos próximos cinco anos.
“O mercado está começando a perceber que a educação corporativa não é custo – é estratégia e que gera impacto e transformação”, diz a CEO da empresa de aprendizagem Newnew, Mariana Achutti. Fundada em 2024, a empresa tem grandes empresas iFood, Heineken, Ambev e L’Oréal entre clientes atendidos.
Ao mesmo tempo em que a requalificação profissional é urgente, modelos tradicionais de treinamento falham. As pessoas estão cada vez mais distraídas, soterradas por uma avalanche de informações que chegam a todo instante. Há uma crise de aprendizagem em jogo. “Hoje a distração é o novo déficit de atenção”, diz a executiva.
O problema vai além da concentração perdida já que a neurociência mostra que ser multitarefa e estar exposto a estímulos digitais prejudica a memória de trabalho e capacidade de retenção de informações. “O cérebro precisa de tempo e profundidade para consolidar informações, mas estamos cada vez mais acostumados a consumir conteúdos curtos e superficiais”, diz a executiva.
A sobrecarga das informações gera um fenômeno chamado “infoxicação” – ou seja, quando o volume de dados que consumimos é maior do que conseguimos processar. O custo é alto, há aumento do estresse, queda na capacidade de concentração e uma dificuldade crescente em aprofundar o aprendizado.
Para garantir que a aprendizagem ocorra de forma eficaz, diz Mariana Achutti, é preciso rever o modelo dos treinamentos, já que a maioria não considera nem a forma como o cérebro humano aprende. “A neurociência já comprovou que aprendizado sem contexto e sem aplicação prática tem retenção baixíssima.”
Ela diz que o modelo de treinamento que funciona é de aprendizado contínuo, onde aprender é parte da rotina de trabalho. Para isso, é fundamental oferecer conteúdos direcionados. “Em vez de um mar de conteúdos aleatórios, as empresas precisam oferecer aprendizados direcionados, baseados em lacunas reais de habilidades”, diz.
Além disso, o aprendizado precisa ser aplicado no dia a dia para evitar o esquecimento, com projetos reais e desafios práticos que conectem teoria e prática. A personalização também é essencial, pois cada profissional tem demandas específicas, e o uso de IA e plataformas adaptativas pode tornar o ensino mais eficiente e engajador. “No final, a pergunta não é se devemos investir em requalificação. É se as empresas querem estar preparadas para o futuro ou ficar para trás”, diz.