Inpasa: Expansão movida a bioenergia
Empresa amplia a presença no Brasil e mira escala, eficiência e menor dependência do milho na produção de etanol
Fundada em 2006, no Paraguai, onde mantém duas unidades produtivas, a Inpasa iniciou sua trajetória com foco na produção de biocombustíveis e, ao longo dos anos, consolidou-se como uma das principais fabricantes de etanol de milho da América Latina. Um marco desse processo ocorreu em 2019, com a inauguração da primeira unidade brasileira, em Sinop (MT). Desde então, a empresa ampliou sua presença no país com novas operações em Nova Mutum (MT), Dourados (MS) e Sidrolândia (MS), além de projetos em curso em Balsas (MA) e Luís Eduardo Magalhães (BA).
O avanço geográfico e operacional tem se refletido nos resultados financeiros. Com faturamento consolidado de 14,9 bilhões de reais em 2024 — sendo 13,6 bilhões no Brasil —, a empresa projeta alcançar receita de 24 bilhões em 2025, apoiada em ganhos de escala, diversificação e eficiência logística.
A Inpasa mantém um ciclo intensivo de investimentos. Apenas em 2024, destinou 4,9 bilhões de reais a novas fábricas e projetos de eficiência operacional. A estratégia envolve automação industrial, pesquisa aplicada e aproveitamento energético. “Nosso crescimento é sustentado por investimento contínuo em inovação e por uma estrutura logística que garante previsibilidade e redução de custos”, afirma Éder Lopes, presidente da Inpasa.
Um dos projetos em andamento é a implantação de uma destilaria de etanol neutro (produto com alto grau de pureza, usado pelas indústrias de bebidas, cosméticos, farmacêutica e química) em Dourados. Há também iniciativas voltadas à eficiência hídrica e térmica nas unidades existentes. Além disso, em parceria com a Embrapa, a empresa conduz pesquisas para viabilizar o uso do sorgo como matéria-prima alternativa, buscando reduzir a dependência do milho.
A diversificação do portfólio é outro componente central do modelo de negócios. Além do etanol, a Inpasa produz DDGS (farelo proteico para alimentação animal) e óleo de milho, que complementam a receita e ajudam a reduzir riscos de mercado. O DDGS representa parcela significativa das exportações brasileiras do setor, abastecendo cadeias de proteína animal no Brasil e no exterior. “O modelo de aproveitamento integral do grão é essencial para manter margens e equilíbrio de receitas, reforçando o compromisso com a economia circular”, diz Lopes.
O bom momento do etanol de milho reflete uma tendência mais ampla no país. Segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), o segmento deve responder por 25% da produção nacional de etanol em 2025, impulsionado por investimentos superiores a 40 bilhões de reais. A aprovação da Lei do Combustível do Futuro, que elevou para 30% a mistura de etanol à gasolina, deve ampliar ainda mais a demanda e estimular novas usinas no Centro-Oeste.
Ainda assim, o setor enfrenta desafios importantes. A competitividade depende de estabilidade dos preços do milho, eficiência logística e políticas públicas que garantam previsibilidade. Para Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, a industrialização do milho — que gera não apenas etanol, mas também DDGS e óleo — fortalece a pecuária e impulsiona as exportações de carnes. “O desafio é manter margens equilibradas em um cenário de custos agrícolas e energéticos voláteis”, diz Nastari.
Publicado em VEJA, outubro de 2025, edição VEJA Negócios nº 19







