IPCA-15 surpreende positivamente, mas não deve mudar trajetória da Selic
Métrica de ‘serviços subjacentes’, muito citada por comunicados do Banco Central, ficou estável na prévia da inflação de setembro
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de setembro surpreendeu positivamente e mostrou que a inflação está mais bem distribuída entre os grupos, mas não deve ser suficiente para mudar a trajetória de alta da Selic, avaliam economistas.
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Nesta quarta-feira, 25, o IBGE divulgou que o IPCA-15 variou 0,13% em setembro, abaixo dos 0,19% registrados em agosto. O índice, considerado pelo mercado como a prévia da inflação, também veio abaixo das projeções do mercado. No acumulado de 12 meses, ele desacelerou de 4,35% para 4,12%.
Segundo Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, o resultado mostrou uma composição benigna da inflação. “Na análise dos dados qualitativos, só tivemos boas notícias. Todas as métricas vieram menores do que em agosto e abaixo do esperado”, diz.
O economista ressalta que a métrica de ‘serviços subjacentes’ registrou o menor número desde junho de 2020, no auge da pandemia de Covid-19. Em setembro, os serviços subjacentes variaram 0%, ante 0,39% em agosto e projeção de 0,31%. A métrica é comumente citada pelo Banco Central como determinante na análise do cenário inflacionário.
“Hoje, esse conjunto [dos serviços subjacentes] é o que mais preocupa o Banco Central, pois é reflexo do “hiato positivo” tantas vezes mencionado no comunicado e na Ata do Banco Central”, diz Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. Atualmente, o setor de serviços tem sido pressionado pela atividade aquecida, desemprego baixo e renda crescente, elementos que estimulam o consumo da população.
Para Saadia, apesar dos números do IPCA-15 terem vindo abaixo das expectativas, fica evidente que a deflação observada no IPCA agosto foi um movimento pontual. Ele chama a atenção para a inflação dos alimentos, que vinham registrando sucessivas deflações, mas abandonaram essa tendência devido às queimadas e ao clima adverso.
Os economistas avaliam que as boas notícias do IPCA-15 também não devem alterar as expectativas para os próximos movimentos do Copom. “A inflação corrente é bem-vinda, mas não deve modificar as preocupações do Banco Central em relação às expectativas futuras”, diz Igor Cadilhac, economista do PicPay.
“Mantemos a nossa expectativa de que o ritmo de alta de juros seja mantido em 0,25 p.p. nas próximas reuniões”, acrescenta Leal, da G5 Partners.