A pandemia pode ter atrasado, mas não evitou que as empresas mantivessem os seus planos de abrir capital. O processo é caro e demorado e a Covid-19 pegou todo mundo de surpresa, mas a recuperação rápida dos mercados animou empresários controladores e grandes investidores. O procedimento que inclui a criação de novos departamentos na empresa e o envolvimento de bancos, de advogados e de consultores exige um investimento de pelo menos 1 milhão de reais e leva tipicamente um ano de duração para ser listada na B3 e aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Mesmo assim, no turbulento 2020, já são 13 companhias que realizaram IPO na B3 e 44 estão na fila de espera pela análise da CVM. Das empresas que abriram capital, no momento, seis tiveram variação negativa no valor de suas ações no período.
Além do planejamento prévio, um dos motivos que incentivaram as companhias a persistir na ideia é o cenário econômico altamente favorável à renda variável. “Muitas empresas não estão preocupadas com o agora, mas com um horizonte mais amplo, e estão aproveitando o momento porque a taxa de juros baixou”, diz André Massaro, consultor e professor de finanças. “Apesar de ainda ser complexo, o processo de abertura de capital também está mais fácil que já foi.”
Em agosto, a B3 chegou a 2,989 milhões de investidores, um crescimento de 119,9% em um ano. Desde a pandemia, já 1 milhão de pessoas chegaram ao mercado de capitais brasileiro. No mês, a alta foi de 4,7%, o que significa a entrada de 134.946 investidores. Ao que tudo indica, o número de interessados na B3 tende a crescer ainda mais (Veja na reportagem de Capa “Por que a onda de novatos na bolsa pode gerar um ciclo virtuoso no Brasil”), afinal, nesta semana, o Copom não deu sinais de que aumentará a taxa de juros por ora, e indicou que não pretende reduzir o grau de estímulo monetário. Nos Estados Unidos a notícia veio na mesma direção: o Fed, o banco central americano, anunciou que a taxa de juros ficará a zero pelo menos até 2023.
A perspectiva de um período maior de juros reais negativos, no entanto, não foi suficiente para animar as bolsas. Após os anúncios das instituições de política monetária, na quarta-feira, tanto as bolsas americanas quanto o Ibovespa caíram. Isso aconteceu principalmente devido à dificuldade para se atingir a meta de pleno emprego nos Estados Unidos, que impactam diretamente na renda e no consumo. Outro fator que pesa nas bolsas é o aumento dos novos casos de novo coronavírus e novos lockdowns, principalmente na Europa. O Euro Stoxx 50 fechou em queda nessa sexta-feira, 18, de 0,99%. Além disso, a bolsa de valores de São Paulo fechou em queda de 1,81%, a 98.289 pontos, influenciada também pela insegurança interna com o ajuste fiscal e principalmente pela queda da Nasdaq.
A baixa de hoje apagou os ganhos da semana e, em relação ao fechamento da sexta-feira passada, o Ibovespa fechou praticamente no zero a zero: -0,07%. O mesmo aconteceu com o S&P 500, que ficou em -0,69%, queda de pouco mais de 20 pontos. Já a Nasdaq amargou quedas de 2,60% no período. “Por mais que a digitalização tenha se acelerado com a pandemia e as Big Techs tenham crescido, é muito difícil o e-commerce continuar forte se as pessoas não possuem emprego e renda para comprar”, diz Daniel Herrera, analista da Toro Investimentos.