Indicado para a presidência do Banco Central, o economista Gabriel Galípolo defendeu, nesta terça-feira, 8, a autonomia da autarquia, reforçou seu papel em perseguir e cumprir as metas de inflação estabelecidas e afirmou , também, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que ele terá liberdade para tomar decisões à frente a autarquia.
“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões, e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro”, disse.
O atual diretor de Política Monetária da autarquia participa nesta manhã de sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal, onde deve ser votada em breve a sua indicação à presidência da autarquia.
Perguntado novamente pelos senadores se teria a coragem de manter ou subir os juros, mesmo sob um pedido contrário do presidente da República, Galípolo voltou a afirmar que nunca sofreu pressão de Lula, e disse que, mesmo se fosse o caso, seguirá tomando decisões técnicas. “Teria essa coragem, obviamente, na hipótese de acontecer”, disse. “Sempre tomei decisões de acordo com a minha consciência e a minha obrigação de decidir de acordo com o o que é melhor para a população. E assumo aqui o compromisso de continuar nessa posição.”
“Gostaria de poder me vangloriar de que já tive essa coragem, mas a verdade é que o presidente nunca fez qualquer pressão comigo”, acrescentou. “Todas as vezes em que o presidente [Lula] me procurou ou me ligou, ele disse que eu teria toda a liberdade de tomar decisão de acordo com a minha decisão, e sou muito grato pela forma como ele sempre me tratou e me escutou.”
“Os juros necessários para atingir a meta”
Amplamente criticada por Lula, a autonomia do Banco Central foi aprovada em 2021 pelo Congresso Nacional. Com ela, além da autonomia em si, foi decidido por mandatos não concomitantes com os da Presidência da República, um mecanismo para reduzir a interferência política. Logo, a independência de decisões deve ser respeitada por lei.
“O Banco Central tem autonomia operacional para buscar as metas estabelecidas pelo poder democraticamente eleito”, disse. “Hoje temos uma meta de 3% e cabe ao Banco Central perseguir esta meta de maneira inequívoca, colocando a taxa de juros no patamar restritivo necessário, e pelo tempo necessário, para atingir esta meta. É esta a função do BC e é assim que ficou o seu arcabouço legal do Banco Central.”
“A melhor relação possível com Lula e Campos Neto”
Esta é a primeira votação para o comando do BC desde que a autonomia da autoridade monetária entrou em vigor. Se aprovado, Galípolo assumirá a presidência da autarquia a partir de janeiro, quando acaba o mandato do atual chefe do BC, Roberto Campos Neto, indicado ainda no governo de Jair Bolsonaro e que está no cargo desde fevereiro de 2019.
De acordo com o sabatinado, sua relação “é a melhor possível” tanto com o presidente Lula quanto com Campos Neto. “Sinto que gerei uma grande frustração nas expectativas de que eu iria entrar no Banco Central e ia começar um reality show, com disputas. Mas a informação que eu tenho a dar é chata, a minha relação com o presidente Lula e com o Roberto [Campos Neto] é a melhor possível”, disse. “Sempre fui muito bem tratado pelo dois e gostaria, dentro das minhas funções, ter podido colaborar para que a relação entre o BC e o executivo fosse melhor ainda.”
A indicação de Galípolo precisa ser aprovada, primeiro, pelos integrantes da CAE e, depois, pelo plenário do Senado, em sessão que está prevista para acontecer ainda nesta terça-feira, com início às 14h. Em ambas as frentes o voto é secreto e é necessária a aprovação da maioria dos votantes.