Enquanto os mais de 200.000 alunos do grupo Ser Educacional ainda ensaiam a volta às aulas, o empresário Janguiê Diniz, fundador da instituição, não quer saber de tirar férias. Na tarde desta terça-feira, 18, ele surpreendeu a todos ao arrematar, pela bagatela de 27,5 milhões de reais, a mansão de Edemar Cid Ferreira, ex-dono do Banco Santos. Era a quarta vez em que o imóvel suntuoso, localizado na Zona Sul da cidade de São Paulo, ia a leilão. E não foi fácil adquirir o patrimônio. Foram necessários sete lances — cada um adicionava um milhão de reais, no mínimo, à proposta — para que Diniz pudesse comemorar a vitória. A mansão era avaliada em 78 milhões de reais, três vezes o que o empresário precisará desembolsar para efetuar a compra.
De origem humilde, o empresário, que também é escritor, mestre e doutor em direito, afirma que a compra da mansão servirá para que ele realize um sonho: ele irá instalar uma escola de alto padrão direcionada para o ensino básico, focada no desenvolvimento de criatividade, da inovação e do empreendedorismo. “O que antes era um templo de ostentação agora se tornará um templo de educação que, por meio do seu legado, irá transformar vidas, histórias e destinos do povo brasileiro”, diz Diniz.
Nascido em Santana dos Garrotes, sertão da Paraíba, Diniz trabalhou desde cedo. Aos 8 anos, era engraxate. Dos 10 aos 14, foi caixeiro-viajante, balconista em lojas de roupas, garçom e office boy. Mas, em 1983, viu sua vida mudar ao ser aprovado no vestibular para direito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ainda no quarto ano da graduação, ele montou uma empresa de cobrança, iniciando uma trajetória de empreendedorismo que acabaria o levando à criação do grupo Ser Educacional, que hoje detém mais de sessenta centros universitários pelo país. “Eu tive uma base educacional diferente do modelo das famílias de classe média ou alta. Precisei enxergar nos estudos e no empreendedorismo as saídas para a minha mudança de vida”, afirma.
A ideia de Diniz é inaugurar a unidade para o ano letivo de 2021. A escola fundamentada no pensamento global, usará métodos de solução de problemas reais de forma integrada para ensinar diversas habilidades e desenvolver o pensamento crítico. Uma das inspirações para o projeto é a Ad Astra School, instituição de ensino desenvolvida pelo bilionário americano Elon Musk, CEO da SpaceX e da Tesla Motors. Localizada na Califórnia, a Ad Astra é conhecida por ser um projeto sigiloso de Musk, que foge dos métodos de ensino convencionais, e conta com currículo pesado em ciências, matemática, engenharia, robótica e inteligência artificial.
Quem é Edemar Cid Ferreira
Nascido em Santos, o economista Edemar Cid Ferreira, de 76 anos, começou sua vida nos bancos como funcionário do Banco do Brasil. Formado em economia pelo Mackenzie, ele ganhou notoriedade, com apenas 23 anos, ao fundar o finado Banco Santos — ainda como uma corretora —, em 1969. Seu nome, antes elevado a um dos principais do mercado, foi imbuído em escândalos em 2005, quando uma auditoria do Banco Central constatou um rombo de 2,2 bilhões de reais nas contas da instituição — e não de 700 milhões de reais, como anunciava o banco.
O Banco Central afastou o bilionário da cadeira de presidente — e, a partir daí, sua vida virou um verdadeiro inferno. Sem condições de driblar o rombo e reestruturar, ou até mesmo vender, a instituição pública demorou poucos meses para decretar a falência do banco. No ano seguinte, acusado de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e formação de quadrilha, Ferreira foi preso — e condenado a 21 anos de cadeia. Solto meses depois, acabou encarcerado novamente ao final do mesmo ano. Nesse imbróglio, a Justiça determinou o leilão do mausoléu. No vaivém, sua condenação foi anulada em 2015.
Apaixonado pelo mundo das artes, a partir da ascensão de suas contas, Cid Ferreira começou a colecionar peças e frequentar os grandes centros. Era amigo da escritora Patrícia Galvão, a Pagu, e atuou em peças do dramaturgo Plínio Marcos. Depois disso, após operar por recursos para o Teatro Municipal de São Paulo, foi eleito para o conselho de administração da Bienal paulista, em 1992 para, no ano seguinte, assumir a presidência da instituição. Expôs suas coleções nos maiores museus do mundo, como no Guggenheim, em Nova York, e no Petit Palais, em Paris. Era figurinha carimbada nas colunas sociais dos jornais. Aparecia, também, pelas páginas das editorias de economia. E acabou no caderno policial.