Margem Equatorial: a nova fronteira do petróleo divide governo e ambientalistas
Especialista em transição energética do Greenpeace Brasil, Pablo Nava defende mudança de paradigma na Petrobras

Até 2029, a Petrobras vai investir 7,9 bilhões de dólares na exploração de petróleo. Estão previstos 51 novos poços de petróleo, sendo 15 perfurações na região da Margem Equatorial, localizada no Norte do país, entre os estados do Amapá, na foz no Amazonas, e do Rio Grande do Norte.
Os planos estratégicos e de negócios preveem um investimento de 3 bilhões de dólares nessa região nos próximos cinco anos. “Isso nos permitirá contribuir com o atendimento à demanda crescente por energia a partir de uma produção realizada com investimentos tecnológicos que garantem segurança operacional e cuidado ambiental”, informa a Petrobras.
Ambientalistas são contra a exploração de petróleo na região. Segundo o Greenpeace Brasil, a área abriga um massivo sistema de recifes com grande importância ecológica para o Oceano Atlântico e de importância socioambiental para as comunidades locais do Amapá e Pará. Embora essa seja uma decisão política, ignorar avaliações técnicas sobre a sensibilidade ambiental da região, a dinâmica das águas na Margem Equatorial e o modo de vida das comunidades locais é irresponsável, diz o Greenpeace,
Em abril de 2024, o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), com apoio do Greenpeace Brasil, conduziu um estudo para mapear as correntes marinhas da Bacia da Foz do Amazonas e apontaram os riscos associados a essa atividade: a apuração concluiu que um eventual derramamento de óleo na região contaminaria centenas de quilômetros de mares de regiões costeiras nacionais e de países da Pan-Amazônia, com efeitos drásticos tanto para a vida marinha quanto para a população costeira.
Para que mais petróleo?
O especialista em transição energética do Greenpeace Brasil, Pablo Nava, defende que a estatal invista os mesmos bilhões de dólares anunciados em pesquisa para expandir fontes renováveis. “A Petrobras pode se tornar uma empresa de energia, e não apenas uma exploradora de petróleo, esse é o primeiro paradigma que precisaria se comprometer a assumir”, diz.
A discussão, diz Nava, deve girar em torno da razão pela qual o país quer mais exploração de petróleo. Para limitar o aquecimento global a 1,5°C, as emissões globais de gases de efeito estufa devem cair 60% até 2035 em relação a 2019, segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU. O mundo já ultrapassou a alta de 1,5°C, e os efeitos do aquecimento global prejudicam diversas populações do planeta.
“Enquanto o mundo fala em tomar medidas para descarbonizar em dez anos, o Brasil vai na contramão”, diz Nava. Ao defender as pesquisas na região da Margem Equatorial, o presidente citou a exploração de óleo nos países vizinhos, como Guiana e Suriname.
“Eu quero preservar, mas eu não posso deixar uma riqueza que a gente não sabe se tem e quanto é a 2.000 metros de profundidade, enquanto o Suriname e a Guiana tão ficando ricos às custas do petróleo que tem a 50 km de nós”, disse o presidente, pressionando pela liberação das pesquisas.
Ao apresentar a exploração do petróleo na bacia da foz do Amazonas como um vetor de desenvolvimento econômico para a região, o governo repete o equívoco de associar a mera extração de recursos ao progresso regional, segundo o Greenpeace. Especialmente no ano em que o país sedia a COP30, na Amazônia, o Brasil deveria adotar uma postura mais proativa na promoção da discussão de como descarbonizar as matrizes energéticas e de como sair do modelo ancorado no petróleo como desenvolvedor da economia ao invés de seguir o movimento dos países vizinhos. “Nós temos uma matriz expandida e devemos olhar para outras fontes alternativas ”, diz Nava, que também criticou a entrada do Brasil no grupo de aliados da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep+).
