O Comitê de Política Monetária (Copom) inicia nesta terça-feira, 5, a reunião que vai definir a taxa básica de juros, a Selic. Amanhã, quarta-feira, deve anunciar uma nova elevação na Selic. Após a alta de 0,25 na ultima reunião, o mercado agora prevê que o BC adote um tom mais agressivo para conter a desencoragem da inflação. O consenso do mercado é uma elevação de 0,50 ponto percentual, levando a taxa de 10,75% para 11,25%.
Desde 2023, a Selic passou por cortes significativos, saindo de 13,75% para 10,50% em agosto. No entanto, o cenário mudou significativamente nos últimos meses. Agora, a previsão é que a Selic encerre o ano em 11,75%, o que implica dois aumentos de 0,50 ponto percentual nas últimas duas reuniões do ano.
O aperto monetário está ligado à piora das expectativas de inflação. Analistas consultados pelo Banco Central elevaram pela quinta semana consecutiva suas projeções de inflação para 2024. De acordo com o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 4, o IPCA deve fechar o ano em 4,59%, uma alta de 0,04 ponto percentual em relação à previsão da semana anterior. A projeção supera o teto da meta, que tem um centro de 3% e uma margem de tolerância de até 4,5%.
A desancoragem das expectativas inflacionárias está sendo alimentada pela desvalorização cambial e o aumento do risco fiscal. O dólar recentemente atingiu seu maior valor em quatro anos, aproximando-se de R$ 5,90, o nível mais alto desde o início da pandemia em 2020. Na segunda-feira, a moeda arrefeceu, mas segue em um patamar alto, cotada a R$ 5,78.
O câmbio elevado preocupa, pois intensifica a pressão inflacionária ao encarecer produtos importados. Além disso, o cenário internacional segue fazendo pressão com a guerra no Oriente Médio e as eleições presidenciais nos Estados Unidos aumentando a incerteza global.
A Equus Capital, gestora de investimentos que utiliza inteligência artificial para prever movimentos de política monetária, desenvolveu o Índice Equus de Precificação da Selic (IEPS). De acordo com o IEPS, há uma probabilidade de 85,8% de que o Copom suba a Selic em 50 pontos-base nesta semana. “Esse percentual reflete a compreensão do mercado com a falta de medidas fiscais efetivas por parte do governo, bem como a incerteza sobre a trajetória econômica do país”, afirma Felipe Uchida, sócio da Equus Capital. Ele destaca que as taxas dos DIs superaram os 13%, sinalizando uma expectativa de juros mais altos e uma postura mais defensiva dos investidores.
A transferência das expectativas inflacionárias reflete não apenas o contexto local, mas também os choques internacionais. Segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, os preços de alimentos e combustíveis têm mostrado pressão significativa, com o IPC-Fipe registrando alta de 0,80%, indicando que a inflação está longe de ser controlada. Essa alta nos preços de itens essenciais coloca o Banco Central em uma posição delicada: se não agir de forma estratégica, corre o risco de ver a inflação sair do controle. “Esse cenário requer atenção contínua para ajustes na política monetária, visando manter a inflação dentro dos limites estabelecidos e assegurar a estabilidade econômica”, diz Eyng.
O crescimento econômico também é outro agravante. O Boletim Focus prevê um crescimento de 3,10% para 2024, o que indica um cenário de aquecimento da economia, mas também uma possível complicação no controle da inflação. Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, alerta que “esse crescimento, embora bem-vindo, pode intensificar as pressões inflacionárias, tornando a tarefa do Banco Central ainda mais desafiadora”.
A expectativa é que o governo brasileiro apresente ainda esta semana um pacote de cortes de gastos como forma de mitigar os riscos fiscais e aliviar a pressão sobre a política monetária. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha uma viagem agendada para a Europa, o que inicialmente aumentou o nervosismo do mercado. No entanto, a pedido do presidente Lula, Haddad cancelou a viagem, se reuniu com a Casa Civil e reacendeu as expectativas de que o anúncio do pacote de cortes ocorra nos próximos dias.
Lula, que tem sido um dos maiores críticos à elevação da Selic, já entrou em embates com o Banco Central devido à alta dos juros. Diante desse histórico, é possível que o governo apresente o pacote antes da próxima reunião do Copom, na tentativa de influenciar a decisão do Banco Central ou, ao menos, reduzir a magnitude do aumento previsto para a taxa de juros.