Antes de contagiar os empresários, o otimismo com as perspectivas de retomada econômica se espalhou no mercado financeiro. Em um ano no qual os setores produtivos enfrentaram episódios de estagnação à espera das reformas prometidas pelo governo, o número de pessoas físicas registradas na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, dobrou. O principal índice do mercado de capitais, o Ibovespa, obteve recordes atrás de recordes e, no início de dezembro, bateu 110 000 pontos. Trata-se do dobro do que foi registrado em 15 de abril de 2016, o dia útil anterior ao do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A animação foi tamanha que investidores locais invocaram a imagem do touro de ouro, versão do símbolo de Wall Street que marca a opulência dos mercados em alta — por aqui, o bicho virou meme nas redes sociais e piadas sobre o assunto fizeram a festa entre financistas.
Sensível, o mercado de capitais detectou os primeiros indícios de melhora na economia, e isso se traduziu na alta do Ibovespa. O lucro das empresas, principalmente de bancos e de estatais, por exemplo, sustentou essa alta. Ajudou também a mínima histórica da taxa Selic, reduzida a 4,5% ao ano. O movimento de euforia é em escala global. O indicador S&P 500, que mostra a performance financeira das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, alcança sua máxima. As bolsas europeias idem.
Apesar da expansão e dos recordes, 2019 foi caracterizado por um volume modesto de abertura de capital das empresas, as chamadas ofertas públicas iniciais de ações (IPOs): apenas cinco operações desse tipo. Em 2007, ano que registrou o maior número de aberturas, foram 76 ofertas. A expectativa é que isso melhore em 2020. Assim que a retomada se consolidar em aceleração da atividade econômica, o fluxo de dólares dos investidores estrangeiros deverá retornar ao país e abastecer não só o mercado financeiro mas também o caixa das empresas.
Publicado em VEJA de 1º de janeiro de 2020, edição nº 2667