Morre o ex-ministro Delfim Netto, aos 96 anos, em São Paulo
Economista comandou as pastas da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento durante governos do regime militar e foi um dos signatários do AI-5
Morreu na madrugada desta segunda-feira, 12, aos 96 anos, Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento e ex-deputado federal. Segundo a assessoria, não haverá velório aberto e o enterro será em cerimônia restrita aos familiares.
Com complicações de saúde, Delfim Netto estava internado em São Paulo, no Hospital Albert Einstein, desde o dia 5 de agosto. O ex-ministro deixa uma filha e um neto. A causa da morte não foi divulgada.
Nascido no dia do Trabalho, 1° de maio, de 1928, Delfim Netto formou-se em economia pela FEA-USP em 1951, onde começou a atuar como professor em 1952. Em 1959, publicou a tese “O Problema do Café no Brasil”, conquistando o título de Professor Livre-Docente.
Delfim Netto foi ministro da Fazenda de 1967 a 1974, durante o período da ditadura militar, servindo os governos dos generais Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici. Em dezembro de 1968, quando ainda era ministro da Fazenda, foi um dos signatários do Ato Institucional Nº 5, que ampliou a repressão da ditadura militar e deu início aos chamados “anos de chumbo” do regime militar brasileiro. O AI-5 deu ao presidente da República, Costa e Silva, poderes excepcionais, permitindo que ele cassasse mandatos, suspendesse os direitos políticos de qualquer cidadão por até dez anos, fechasse o Congresso Nacional e outros órgãos legislativos, interviesse em estados e municípios, além de eliminar o direito ao habeas corpus.
O economista também é lembrado por ter sido o principal condutor do chamado “milagre econômico”, período de crescimento da economia, com medidas para atrair investimento externo e avanço do Produto Interno Bruto (PIB). Deixou o cargo de ministro da Fazenda como o o ministro mais longevo. Em 1975, assumiu como embaixador do Brasil na França, de onde retornou em 1978. No ano seguinte, foi ministro da Agricultura e, depois, comandou a Pasta de Planejamento, de 1979 até 1985, durante o governo de João Batista Figueiredo.
Foi deputado federal da Constituinte de 1987 a 1991 pelo Partido Democrático Social, sucessor da Arena. Foi eleito deputado cinco vezes e ficou no cargo até 2007. Em 2002 e em 2006, declarou apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e se tornou um de seus conselheiros.
Delfim foi conselheiro histórico de vários governos. Além de Lula, aconselhou presidentes como Sarney, Dilma e Michel Temer. Em uma de suas últimas entrevistas a VEJA, em novembro de 2021, aos 93 anos, falou sobre uma possível vitória de Lula nas eleições de 2022. “O governo Bolsonaro acabou. Lula é um homem pragmático. Fez um bom governo porque as situações externas eram boas. Lula não tem nada de esquerda e vai fazer um governo tão pragmático quanto o primeiro”, afirmou ele ao Radar Econômico à época. “Vai assumir um país destroçado. O Lula sempre foi respeitador da ordem financeira, nunca houve nenhum exagero do ponto de vista fiscal.”
Diversas autoridades e personalidades se manifestaram sobre a morte de Delfim Netto, nesta segunda-feira, 12. O presidente Lula destacou o legado de Delfim Netto, nesta segunda-feira 12, lembrando também da morte da economista Maria da Conceição Tavares, em junho, e afirmou que o Brasil perdeu “duas referências do debate econômico no país”.
“Fica o legado do trabalho e pensamento dos dois, divergentes, mas ambos de grande inteligência e erudição, para ser debatido pelas futuras gerações de economistas e homens públicos”, escreveu.
“Durante 30 anos eu fiz críticas ao Delfim Netto. Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos. Delfim participou muito da elaboração das políticas econômicas daquele período. Quando o adversário político é inteligente, nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes e competentes”, disse o presidente Lula.
Em nota, o Ministério da Fazenda também se manifestou e afirmou que o economista foi um referencial em diferentes fases da história do país. “Por décadas, fomentou debates essenciais sobre a condução da política econômica brasileira. Neste momento de luto, os servidores do ministério da Fazenda manifestam respeito e solidariedade aos familiares e amigos de Delfim Netto”.
(Com Agência Brasil)