Motor em alta rotação: São Paulo é a líder em dinamismo econômico
A capital paulista confirma a liderança em Indicadores Econômicos e revela os desafios que a cidade precisa enfrentar para garantir crescimento sustentável
Capital financeira do Brasil, sede de grandes corporações, centro de decisão de investimentos e berço de startups de alcance global. São Paulo é, há muito tempo, o coração econômico do país. Seu peso no produto interno bruto — estimado em 10,5% segundo o IBGE —, a densidade empresarial e a concentração de talentos e infraestrutura fazem da cidade um polo incomparável nos contextos brasileiro e latino-americano. A posição de destaque acaba de ser confirmada por um levantamento da Austin Rating, que avaliou os 5 570 municípios brasileiros com base em 253 indicadores e quatro pilares principais. Nessa análise, São Paulo aparece em 1º lugar no pilar econômico, tanto no ranking geral quanto entre as 152 cidades de grande porte. É uma fotografia atualizada da força econômica da capital paulista e do que precisa ser feito para garantir seu protagonismo no futuro.
Quando se pondera a estrutura empresarial brasileira, a supremacia paulistana se torna mais evidente. São Paulo se destaca no quesito Empresas e Negócios, ficando em 1º lugar entre todas as cidades brasileiras avaliadas. Dos 96 Indicadores Econômicos analisados, a capital lidera em 73 — uma diferença que revela não apenas volume, mas consistência em múltiplas dimensões do ecossistema de negócios. Os números comprovam esse dinamismo. De 2021 a setembro de 2025, foram abertas 847 911 empresas na metrópole. Além disso, 86 280 empresas migraram de outros municípios para São Paulo no mesmo período. “Esse avanço foi turbinado pelas políticas públicas voltadas à atração de empresas, simplificação de processos e incentivo a setores estratégicos”, diz o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Programas de desburocratização, capacitação profissional e estímulo ao empreendedorismo fortaleceram o ambiente de negócios na cidade.
Um exemplo disso é o programa Empreenda Fácil, que permite abrir empresas de baixo risco em até 24 horas. Houve também redução de alíquotas de ISS para setores como tecnologia e audiovisual e a extinção da taxa de fiscalização de anúncios. Medidas como essas têm buscado tornar o ambiente mais atraente, embora analistas ressaltem que seu impacto depende da articulação com políticas de longo prazo. Mas o que realmente explica a escolha de São Paulo por empresas consolidadas vai além dos incentivos fiscais. Para grandes companhias, a cidade oferece algo difícil de replicar: escala, talentos e infraestrutura integrados num mesmo território. “São Paulo sempre foi uma cidade estratégica para o Nubank, sendo a base operacional para o nascimento e a consolidação da empresa”, diz Eduardo Lopes, diretor de políticas públicas da fintech.
São Paulo abriga a sede global do Nubank e concentra equipes estratégicas de engenharia, produto e atendimento, o que favorece a integração entre áreas e acelera decisões. A proximidade com os órgãos reguladores e a ampla oferta de profissionais qualificados são aspectos decisivos. A cidade também tem papel central na estratégia de lançamento de produtos financeiros, testados primeiro no mercado paulistano antes de ser escalados para o país. A lógica de “laboratório de inovação” se repete em outros setores. No varejo, Marcos Colares, presidente do Grupo DPSP (Drogarias Pacheco e São Paulo), resume: “A cidade respira inovação e oportunidades. Isso exige das empresas uma capacidade constante de adaptação e resposta rápida”. O grupo mantém 370 lojas na capital paulista, de um total de 1 600 em nove estados e no Distrito Federal. “E há muito espaço para crescer”, diz Colares.
O vigor econômico se traduz também num setor igualmente estratégico: o turismo de negócios. Fernando Guinato, presidente do conselho de gestão do Visite São Paulo Convention Bureau, informa que o setor se recuperou plenamente da pandemia. Até setembro de 2025, o número de eventos cresceu 59% versus o mesmo período de 2024, com estimativa de alta de 65% no acumulado do ano. São Paulo responde por 60% a 65% dos eventos realizados no país — uma hegemonia que vai de grandes feiras setoriais a congressos médicos, encontros corporativos, festivais culturais e competições esportivas como a recente corrida de Fórmula 1 no Autódromo de Interlagos. No contexto latino-americano, São Paulo disputa diretamente com Buenos Aires o posto de principal polo de turismo de negócios. A cidade tem vantagens como diversidade de espaços, boa infraestrutura logística e alta capacidade hoteleira.
Apesar da liderança econômica incontestável, São Paulo enfrenta desafios que vão além dos indicadores empresariais. No ranking fiscal da Austin Rating, a cidade aparece apenas na 40ª colocação entre as cidades de grande porte, com desempenho mediano em execução orçamentária e autonomia financeira. Nos Indicadores Sociais, a capital figura na 31ª posição, com lacunas em áreas como atenção ao jovem e acesso digital ao conhecimento. O levantamento da Austin Rating mostra que São Paulo reúne os ingredientes de um centro econômico consolidado: dinamismo empresarial, diversidade produtiva, infraestrutura e capital humano. O desafio, daqui para a frente, é garantir que o crescimento se traduza em bem-estar para todos os seus habitantes.
Publicado em VEJA, novembro de 2025, edição VEJA Negócios nº 20







