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Movimento ‘Não Demita’ não garante empregos no pós-crise

Mais de 4.000 companhias se comprometeram a não demitir até 31 de maio, mas empresas médias e pequenas podem ter de optar por cortes ao fim do período

Por Diego Gimenes
Atualizado em 23 abr 2020, 14h19 - Publicado em 23 abr 2020, 13h47
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  • Com uma economia fragilizada pelo novo coronavírus, surgem iniciativas para mitigar os efeitos dessa crise sem precedentes. O movimento “Não Demita” é uma delas e as mais de 4.000 empresas que aderiram à iniciativa prometem não demitir seus funcionários até 31 de maio. Mesmo assim, algumas companhias naturalmente sentem o confinamento mais do que outras e não conseguirão sobreviver à crise. Assim, apesar do empenho de muitos empresários em tentar manter os postos de trabalho, pode chegar um momento em que não será mais possível segurar o emprego.

    As pequenas e médias empresas são as mais vulneráveis nesse contexto e possuem acesso limitado a linhas de crédito. Ao mesmo tempo, são responsáveis por 54% dos empregos formais no país, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Em São Paulo, por exemplo, essas empresas têm em média doze dias de caixa. Como as medidas de isolamento social no Estado já duram mais de trinta dias, muitas não tem mais como pagar as contas. 

    O economista José Pastore enaltece iniciativas como o Não Demita e considera que esse tipo de atitude valoriza a mão-de-obra. Por outro lado, ele pondera a continuidade do movimento nas pequenas e médias empresas que, segundo o economista, não possuem reservas e capital de giro do mesmo nível das grandes companhias. “As grandes empresas são bem posicionadas e têm fôlego bem maior para enfrentar a crise, tudo o que as pequenas e médias não têm. Existem alternativas para mantê-las em operação, como oferecer crédito a juros baixos, permitir que se reduza a jornada de trabalho, deferir pagamento de impostos para o final do ano e suspender contratos, por exemplo. Ainda assim, não se tem certeza que isso será suficiente para que elas se mantenham vivas”, ponderou.

    Pastore não acredita que o movimento possa vingar por muito mais tempo para essa categoria. “Portanto, é difícil afirmar que essa mobilização irá se estender além da data prevista para todas as 4.000 empresas, é bem possível que as pequenas e médias não aguentem uma extensão desse período, a depender dos pacotes de ajuda”.

    Na última segunda-feira, 20, a Caixa e o Sebrae anunciaram uma parceria para aportar essas empresas. As taxas de juros variam entre 1,19% e 1,59% e há 7 bilhões de reais disponíveis para empréstimos. O governo federal também tem um programa para financiar folha de pagamento de pequenas empresas: são 40 bilhões de reais disponível com taxa de juros fixos de 3,75%. 

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    Novas soluções

    Apesar das grandes empresas terem uma situação aparentemente melhor, o cenário para elas também é preocupante. O empresário Flávio Augusto da Silva, proprietário da escola de inglês Wise Up, tem como meta não demitir ninguém, mas alega que corte no quadro de funcionários pode virar questão de sobrevivência. Para tentar auxiliar os franqueados, uma ponta mais sensível de seu negócio, ele decidiu isentar algumas taxas para que esses empreendedores possam manter empregos. “O franqueado fatura não mais que 2 milhões por ano e emprega em média de 10 a 15 pessoas. São 10.000 colaboradores e 600 franqueados. Montamos um plano de contingência pra salvar essas pessoas. São quase 400 escolas fechadas. Isentamos de royalties, orientamos a negociar aluguel, com alunos, com benefícios a esses alunos, toda uma movimentação que fez parte da contingência”.

    Sobre os aluguéis dos espaços, uma das despesas das franquias, o proprietário da Wise Up se mostrou otimista quanto a negociação. “Os proprietários dos imóveis estão dando no mínimo de 50% e em alguns casos chegando 100% de desconto nos aluguéis. Se temos pela frente uma recessão, ele sabe que se perder aquele locatário, poderá ficar de 1 a 2 anos sem um locatário”.

    Silva vê uma luz no fim do túnel e crê que a digitalização e a adoção de aulas online têm sido soluções para enfrentar a crise. “Temos uma plataforma com serviço EAD. 100% das horas serão repostas, até por orientação da Defesa do Consumidor. Estou sentindo receptividade pelas partes, o aluno não pediu o desconto. A adesão está grande. Isso envolve toda uma engenharia financeira, o franqueado ficou muito assustado no começo, mas agora estão confiantes”.

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    O economista Amir Khair pede que as demissões sejam evitadas e realizadas somente em último caso. Ele lembra que no futuro a contratação de novos funcionários pode ocasionar em princípio numa produtividade menor. “Grandes empresas ainda têm caixa e sabem que custa caro demitir, às vezes tem que pagar o equivalente a dois ou três meses de salário somente em indenizações ao funcionário demitido. É normal que as empresas levem um pouco mais de tempo para demitir, é a última instância. Se perde o trabalhador hoje, contrata outro no futuro que não estará preparado, tem ainda todo o processo de aprendizagem e adaptação”.

    Perspectiva para o futuro

    O empresário José Carlos Semenzato, jurado do programa de televisão Shark Tank e dono da SMZTO Holding de Franquias, afirmou que a crise também o pegou em cheio. Com 14 franquias no portfólio, mais de 2 mil franqueados e 30 mil colaboradores, ele afirma que é preciso se apegar em um cenário neutro para a sobrevivência. “Vamos ter que apagar entre 2 e 3 meses do resultado, num cenário neutro. Chegamos só em novembro a 100% do pré-crise, no cenário pessimista. Precisamos dar o exemplo, por isso os royalties que seriam pagos em 15 de abril, nós como acionistas entendemos que parcelar isso seria importante, um sinal de que estamos fazendo a lição de casa e não recebendo nada dos franqueados em abril. Vamos estender esse prazo para o período entre julho a dezembro”.

    Semenzato reforça a ideia de não demitir neste momento, e conta com a ajuda do governo para bancar entre 30% e 70% da folha. “Se o governo está nos dando o direito de usar esse benefício até junho, é justa a contrapartida. A demissão é prejudicial para eficiência na retomada, falta know-how. Quando contrato novamente, são 6 meses para conseguir deixar o profissional pronto”.

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    Ele prospecta um cenário positivo para quando a pandemia passar e a economia voltar a sua normalidade. “As empresas vão se tornar mais humanas, falta relacionamento humano hoje, é cada vez mais frio. Essa pandemia veio para deixar um recado: precisamos voltar a ser mais humanos. Precisamos que nosso relacionamento seja mais humano e menos focado na monetização. Vocês viram quanto custa ficar longe um dos outros? São poucos os projetos ecossustentáveis e para desenvolvê-los custa muito. Não é com pouco tempo que eu as empresas devolveremos ao planeta, às pessoas”.

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