No atual ciclo da política monetária brasileira, o Banco Central está “dependente de dados” de vários tipos, como inflação e mercado de trabalho, além de estar “aberto a todas as alternativas” para os próximos passos, afirmou Gabriel Galípolo, diretor de política monetária da autarquia.
“A função do BC é ser mais cauteloso, diante de uma economia que parece dar sinais de moderação lá fora, enquanto aqui assistimos a sinais de resiliência maior. Por isso, o BC assumiu uma posição mais conservadora, interrompeu o ciclo de cortes e fica agora dependente de dados”, disse ele, durante evento organizado pelo Tribunal de Contas do Piauí. “Vamos ‘consumir’ os dados a cada reunião do Copom [Comitê de Política Monetária] para analisar como a economia está avançando para, então, tomarmos nossas decisões.”
Nome dado como favorito a ocupar a cadeira do presidente Roberto Campos Neto no BC, Galípolo afirmou também que, nos Estados Unidos, o Federal Reserve tem tido êxito no processo de desinflação, sem grandes custos para a economia, porque as expectativas estão ancoradas – isto é, os agentes de mercado e economistas confiam que a inflação vai convergir para a meta. “Esse não me parece ser o cenário que assistimos no Brasil”, disse. “Do ponto de vista das expectativas, elas estão desancoradas, com uma inflação que vai aos poucos se distanciando da meta.”
No pano de fundo para as expectativas desancoradas, que tornam o trabalho do BC mais duro no combate à inflação, estão dados fortes da economia brasileira, como o desemprego, a renda, o crescimento do crédito e a ocupação da capacidade instalada, segundo Galípolo.
“Estamos com o menor nível desemprego dos últimos 10 anos. A renda cresceu 12% frente a 2022, batendo recorde. O crescimento do crédito está em dois dígitos. A emissão de debêntures, uma medida importante de crédito, bateu 2,5 vezes no primeiro semestre de 2024 em relação a 2023. Estamos com a maior ocupação da capacidade instalada da indústria nos últimos 11 anos”, afirmou.