“Não é convocar, é conquistar”: o segredo das empresas para levar times de volta ao escritório
Relatório da multinacional Sodexo traz as três tendências que estão mudando o jeito de trabalhar (e de querer voltar ao presencial)
A volta ao trabalho presencial é uma realidade tão verdadeira quanto a crise de engajamento por que as empresas atravessam. Promovido, em grande parte, de forma deliberada e autoritária, o retorno dos funcionários aos escritórios tem sido mais fruto de imposição do que da vontade dos profissionais.
Não é de se espantar que as empresas americanas tenham gasto 900 bilhões de dólares em 2024 para substituir funcionários que pediram demissão em 2023. A previsão é que essa despesa cresça neste ano, segundo relatório divulgado pela multinacional Sodexo.
Com base em extensas pesquisas e estatísticas sobre o mundo do trabalho, o documento indica que não se resolve a volta ao presencial apenas convocando as pessoas aos escritórios. A disputa por talentos passa por transformar a ida ao escritório em experiência agradável. É muito menos convocar e, sim, conquistar, a presença das pessoas.
Como explica Danielle Totti, vice-presidente Estratégia, Marketing, Comercial e Performance da Sodexo, a VEJA, os ambientes de trabalho são experiências. “O desafio é torná-las efetivas, de forma que a pessoa prefira ir ao escritório”, diz. Nesse sentido, a Sodexo aponta para grandes tendências que estão redesenhando o trabalho:
Flexibilidade e conveniência
O trabalho precisa se adaptar ao dia das pessoas. Horários e modelo híbrido mais flexíveis, e serviços que facilitem a vida no escritório (café da manhã, minimercado, espaço que vira evento, comida para levar).
A oferta de alimentação é central para conquistar as pessoas. A Sodexo mapeou 11 momentos de alimentação ao longo do dia: do café da manhã ao “lanchinho de energia”, da indulgência da tarde a opções para levar para casa no fim do expediente. “Não é mais um restaurante que as pessoas precisam. É solução para todos esses momentos”, diz Totti.
O dado que salta aos olhos: 17% dos colaboradores iriam mais ao escritório se a alimentação fosse gratuita ou subsidiada. “Quando implementamos, a frequência sobe. Gente que poderia ir dois dias passa a querer ir porque sabe que vai comer bem e conviver”, diz a executiva.
Bem-estar personalizado
A busca por bem-estar ganhou um novo significado dentro das empresas. Segundo a VP da Sodexo, a tendência é oferecer “comida saudável que dá vontade”, com informações claras sobre caloria, sódio e ferro, além de opções veganas e sem lactose. “Na Europa, 30% do cardápio já é plant-based. No Brasil, é uma tendência em aceleração”, afirma.
Para ela, a mensagem é clara: “As pessoas pedem cardápio com informação nutricional. Querem decidir se aquela caloria ‘vale a pena’. Bem-estar cresceu de importância rápido.”
A executiva destaca ainda que o cuidado com a saúde mental entrou definitivamente no pacote de benefícios desejados, com acesso a psicólogos e pausas mais leves. Ela aponta essa ação como fundamental para combater o chamado presenteísmo: quando os funcionários estão presentes no escritório mas não produzem porque estão desmotivados, exaustos ou doentes. “Quando aumentamos o ‘estar presente de verdade’, a produtividade dispara e o retorno do investimento vem.”
Impacto com participação
A nova geração não se satisfaz mais com discurso bonito. Quer ver as atitudes das empresas e participar das decisões. “Não é a empresa entregando tudo pronta. É um ecossistema criando soluções. Isso alimenta o motor do engajamento.”
Essa mudança pede coerência entre fala e prática. Sustentabilidade, por exemplo, precisa aparecer no dia a dia, no uso de produtos biodegradáveis na limpeza, no aproveitamento completo dos alimentos e em ações simples que mostram cuidado com o meio ambiente.
A Sodexo também apostou na cocriação ao reformar seu escritório em Porto Alegre, que serve como vitrine das novas tendências. Os times de marketing, RH, sustentabilidade e arquitetura decidiram juntos o nome, o layout e os espaços do local. Isso fez com que os funcionários se sentissem parte da construção e tivessem orgulho do resultado, diz a executiva.
A horta urbana do escritório fornece verduras para as refeições e virou um símbolo para os colaboradores. “Para engajar, às vezes o simples é muito efetivo”, diz Totti.







