Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Nem tudo deve ser cortado

Há o que preservar e o que podar no Sistema S

Por Claudio de Moura Castro
Atualizado em 4 jun 2024, 15h23 - Publicado em 19 jul 2019, 06h30

O nosso superministro (Paulo Guedes) encostou uma faca pontiaguda na barriga do Sistema S: corta, ou eu corto! Merece podas? Resumindo, há o que cortar, e há que proteger algumas realizações estupendas. O Sistema S reúne sete irmãos. Como os da indústria e do comércio são cachorros maiores, simplificamos a análise, ficando apenas com eles. Senai e Sesi são do patronato industrial. Senac e Sesc do comércio. É melhor, porém, alinhar Senai e Senac de um lado e, de outro, Sesi e Sesc.

Os dois primeiros são parte do sistema econômico. Preparam o capital humano, sem o qual não há como pensar em boa produtividade. Não podem escapar da lógica de mercado. Se o que desejam os alunos, se o que oferecem as escolas e se o que buscam as empresas se alinham, não há investimento de igual retorno. Mas é fácil errar. A administração pelos patronatos, que são os que contratam os graduados, reduz os riscos de cursos desconectados com a demanda — no mundo inteiro, a maior assombração desse tipo de programa. Infelizmente, federações estaduais fracas tendem a ser menos rigorosas nas cobranças dos seus “S”.

Em que pese a modéstia do nosso fluxo turístico, sem o Senac apoiando a gastronomia e a hotelaria os resultados seriam muito piores. Na comunidade internacional de formação profissional, entre os países em desenvolvimento, o Senai sempre foi considerado o mais destacado figurante. De fato, primeiro e segundo lugares na WorldSkills são provas, com firma reconhecida, de sua capacidade de competir com Suíça, Alemanha, Japão e Coreia. Pode mesmo ser o nosso único sistema de ensino de Primeiro Mundo. E mais: é a única rede de escolas que oferece a pobres padrão de educação de ricos.

“Está blindado quem alimenta o sistema produtivo. A política social é muito mais pantanosa”

Contudo, Sesi e Sesc operam como agências de política social, campo cronicamente minado e resvaladiço. Um acerto brilhante dista milímetros do desastre assistencialista. Na década de 40, sob o clima paternalista da época, atendiam classes bem modestas em suas necessidades de saúde, educação, cultura e recreação. Hoje, com algumas exceções, quase tudo já está sendo suprido pelo Estado ou pelo mercado.

Continua após a publicidade

Sesi e Sesc, portanto, estão “na muda”. Precisam repensar seus portfólios. Alguns estados avançam, outros patinam com programas bolorentos ou sem massa crítica, merecendo uma navalha afiada. Uma direção segura é concentrar os recursos na educação. Mas significa pouco serem melhorzinhos que nossa rede pública, pois seu alcance é limitado. O grande potencial é virarem laboratórios educativos, desenvolvendo e burilando soluções criativas — em particular, na exploração de novas opções no ensino técnico, abertas pela nova legislação. Isso porque podem recrutar as mais ilustres cabeças pensantes e alcançar avanços que nem o público nem o puramente privado conseguem obter. No passado, o Senai foi o modelo copiado ipsis litteris pela América Latina. Sesi e Sesc não serão capazes de proeza equivalente?

Está blindado quem opera bem, alimentando o setor produtivo com mão de obra altamente qualificada ou produzindo inovações. Mas a política social é muito mais pantanosa. O Sistema S precisa demonstrar que evita os erros crônicos em atividades com tal índole.

Publicado em VEJA de 24 de julho de 2019, edição nº 2644

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.