Nova versão do GTA mostra que game ainda tem fôlego após 26 anos
Lançamento arrebata fãs e quebra recorde de visualizações no YouTube
Um vídeo promocional com não mais do que um minuto e trinta segundos vem arrebatando multidões — foram 100 milhões de visualizações no YouTube em um período de apenas trinta horas — desde a segunda-feira 4. O trailer revelou, após uma década de expectativas, a nova versão do game Grand Theft Auto, ou apenas GTA VI, filhote de um dos produtos de entretenimento de melhor desempenho em todos os tempos. Nas imagens, os fãs descobrem que um casal de foras da lei, como se fossem Bonnie e Clyde da vida moderna, enfrenta rivais em um mundo aberto inspirado em cidades reais, como Los Angeles, Miami e Nova York, com direito a armas de todos os tipos, explosões, fugas e perseguições espetaculares. Concebida pela desenvolvedora britânica Rockstar, dos irmãos Sam e Dan Houser, a franquia GTA criou uma mística que impulsiona as vendas desde o lançamento da primeira versão, em 1997. “A Rockstar soube construir uma comunidade on-line ao redor do jogo”, diz Thiago Onorato, executivo com passagens pelos gigantes de games Xbox e Activision Blizzard. “O GTA é uma marca muito forte que nunca deixou de ser desejada.”
Basta dar uma espiada na performance das edições anteriores para dimensionar o impacto do jogo. O GTA V vendeu quase 200 milhões de cópias e faturou 8 bilhões de dólares, cifra que o coloca como o de maior receita entre todos os produtos de entretenimento já lançados, considerando inclusive os do cinema e da música. Só no ano passado, nove anos após o lançamento, o jogo faturou 500 milhões de dólares. Ainda sem data definitiva para o lançamento oficial do GTA VI — o trailer foi só um aperitivo para os fãs —, o mercado prevê que ao menos 25 milhões de cópias serão vendidas nos primeiros dias. Além disso, a expectativa é gerar 1 bilhão de dólares de receita em apenas uma semana.
Do ponto de vista técnico, a nova versão traz saltos de qualidade. Os personagens exibem traços e comportamentos realistas e as animações são mais dinâmicas. Para isso, a Rockstar usou recursos da inteligência artificial. “Uma década é mais do que suficiente para as produtoras agregarem novas tecnologias e entenderem os novos consumidores”, diz Carlos Silva, diretor da Go Gamers, empresa de consultoria especializada no mercado de jogos digitais. “Se há uma empresa que pode mudar o mercado, esta empresa é a Rockstar.”
Afinal, por que foram necessários dez anos para a fabricante colocar um novo produto no mercado? Nessa jornada, a Rockstar adotou métodos questionáveis, como obrigar desenvolvedores a trabalhar 100 horas por semana para honrar compromissos comerciais. Entre outros abusos, os empregados também tiveram de guardar aparelhos de celular em armários trancados, para evitar distrações. Após as medidas se tornarem públicas, a Rockstar começou a transformar colaboradores sem vínculo em funcionários de tempo integral e decretou o fim das horas extras obrigatórias. O fato desgastou a imagem da empresa no mercado, mas, como se viu nos últimos dias, não abalou a paixão dos fãs do game.
Na realidade, a maior preocupação dos jogadores diz respeito às plataformas que estarão habilitadas para rodar o game. Como a maioria dos jogos da Rockstar, o GTA VI não será lançado para computadores imediatamente e, em vez disso, estará disponível apenas no PS5 e no Xbox Series X/S. Ressalte-se que o GTA V demorou mais de um ano para chegar aos PCs depois de estrear em console, o que gerou críticas justificadas. Ainda assim, algumas funcionalidades permanecem exclusivas para os consoles até hoje em dia. Com classificação indicativa para maiores de 18 anos — o que se deve sobretudo às cenas de violência e de apelo sexual —, o novo jogo retrata a transformação do mercado de games nos últimos anos. As crianças deixaram de ser a prioridade e foram substituídas pelos jovens adultos. Com cifras bilionárias e protagonistas que têm problemas com a lei, o GTA VI mostra que, ao menos nesse caso, o crime compensa.
Publicado em VEJA de 8 de dezembro de 2023, edição nº 2871