O Fórum Econômico Mundial tem destacado o conceito de capital natural como uma das maiores oportunidades de negócios para o futuro. A entidade o define como o conjunto de ativos naturais que inclui terra, solo, água, ar e biodiversidade. Esses recursos são essenciais para o funcionamento da economia global, pois oferecem serviços vitais como a regulação climática, a purificação da água e a fertilidade do solo. No entanto, a contínua degradação desses ativos está tendo um impacto severo na biodiversidade e nas mudanças climáticas, afetando diretamente a saúde do planeta e a estabilidade econômica.
O conceito de capital natural propõe uma abordagem inovadora e sistêmica que tem grande espaço para ser aplicada no Brasil. Cada recurso natural é tratado como um ativo estratégico. Essa abordagem vai além da preservação, transformando áreas vistas como passivos ambientais, como reservas legais e áreas de proteção permanente, em ativos financeiros. Por meio de créditos de biodiversidade, pagamentos por serviços ambientais e créditos de carbono, essas áreas podem gerar retorno financeiro e proteger ecossistemas.
“O Brasil está bem posicionado para liderar a nova era”
O potencial de negócios relacionado ao capital natural é imenso e pode movimentar a expressiva soma de 10 trilhões de dólares até 2030, gerando mais de 400 milhões de empregos em áreas como biodiversidade e serviços ecossistêmicos. O Brasil, com seus vastos recursos naturais e biodiversidade incomparável, está posicionado para liderar essa transição para uma economia verde, alinhando crescimento econômico com regeneração ambiental. O grande desafio está em incorporar o valor desses ativos naturais ao sistema econômico de forma eficaz: embora 50% do PIB global dependa diretamente da natureza, a economia tradicional ainda não reflete o verdadeiro valor desses recursos.
A criação de mercados financeiros que atribuam valor a serviços ecossistêmicos, como os créditos de biodiversidade e a valorização de empresas de ativos naturais, pode mudar essa dinâmica. Isso permitirá que o capital natural se torne um ativo reconhecido e valorizado no mercado, incentivando mais investimentos privados em recuperação e conservação ambiental. Para isso, é fundamental contextualizar e definir todos os parâmetros de captação dos dados, respeitando as características de cada país quanto ao clima e à disponibilidade de recursos naturais.
O Brasil tem todas as condições para liderar iniciativas de investimentos em capital natural com os recursos naturais, tecnológicos, humanos e intelectuais. Os novos ativos financeiros gerarão fluxos de receita por meio de créditos de carbono e biodiversidade, ao mesmo tempo que contribuirão para a proteção de ecossistemas essenciais. Investir no capital natural brasileiro significa aproveitar o maior ativo do país — a sua biodiversidade.
Gustavo Junqueira é empresário e atua nos conselhos de administração do fundo Exagon, da Alper Seguros, da AgriBrasil e da Capturiant. Foi secretário estadual de Agricultura em São Paulo
Os textos dos colunistas não refletem necessariamente as opiniões de VEJA NEGÓCIOS
Publicado em VEJA, outubro de 2024, edição VEJA Negócios nº 7