O dilema da inflação: alívio no ano, pressão no trimestre — e o Fed no meio do caminho
O índice de preços de gastos com consumo (PCE) subiu 2,3% em doze meses até março, o menor em cinco meses, mas a inflação trimestral avançou para 3,6%

A inflação nos Estados Unidos está se aproximando da meta do banco central americano, o Federal Reserve (FED), mas o ritmo trimestral de alta nos preços sugere que o alívio pode ser passageiro. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) — a medida preferida do Fed para monitorar a inflação — subiu menos de 0,1% em março, de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira, 30. Em doze meses, o índice avançou 2,3%, o menor nível desde outubro do ano passado, mas ainda ligeiramente acima da meta de 2% estabelecida pelo Fed.
O dado de março indica uma desaceleração considerável em relação a fevereiro, cujo índice foi revisado para cima, de 2,5% para 2,7%. Já o núcleo do PCE — que exclui os componentes voláteis de alimentos e energia — avançou 2,6% em 12 meses, o que reforça a cautela do comitê de política monetária quanto ao momento de cortar juros.
Mas se o dado anual traz uma leitura mais benigna, o mesmo não se pode dizer do PCE trimestral. Divulgado em conjunto com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, o PCE mostrou uma alta de 3,6% em termos anualizados entre janeiro e março — uma aceleração expressiva frente ao ritmo de 2,4% no trimestre anterior. O núcleo do índice também avançou, de 2,6% para 3,5%.
Parte da explicação está na diferença de metodologia: enquanto o PCE anual compara os preços de março de 2025 com os de março de 2024, o PCE trimestral anualizado pega a inflação acumulada nos três primeiros meses do ano e projeta esse ritmo para os 12 meses seguintes. Trata-se, portanto, de um indicador mais sensível a variações recentes — e, por isso, mais volátil. Embora o dado preferido do Fed seja o PCE anual, que serve de bússola para a meta de inflação do Fed, o dado trimestral é uma ferramenta para calibrar decisões de curto prazo. Em outras palavras, um dado trimestral aquecido pode pressionar o banco central a adiar cortes de juros mesmo que a taxa de 12 meses esteja próxima da meta.