O elo populista entre Bolsonaro e Biden na véspera das eleições
Reeleição e manutenção da liderança política estão em jogo, enquanto ambos os presidentes apresentam rejeição de mais da metade do eleitorado
O cenário de inflação elevada no Brasil e nos Estados Unidos escanteia as ideologias políticas e se torna o principal indicador para a popularidade dos presidentes de ambos os países. No acúmulo de 12 meses, os níveis gerais de preços chegaram a 11,73% por aqui, enquanto nos EUA estão em 8,6%, a maior alta em quatro décadas. Com isso, Jair Bolsonaro e Joe Biden miram medidas populistas de curto prazo, no calor das respectivas eleições de outubro e novembro.
O denominador comum da inflação nos dois países é a elevação nos preços dos combustíveis e alimentos, impulsionados com a crise de oferta provocada pela guerra na Ucrânia e pelo aumento da demanda no período pós-Covid. Entre as medidas mais recentes – em menos de 100 dias do primeiro turno das eleições de 2022 e com uma rejeição de 55% aferida a Bolsonaro, segundo o Datafolha –, a base de apoio do governo no Senado articulou a aprovação da PEC 1/2022, criando uma série de políticas públicas para aliviar o impacto da elevação dos preços. Considerando que o brasileiro vota “pelo bolso” para além de qualquer outro fator, a medida é certeira do ponto de vista eleitoral, na perspectiva da cientista política Alessandra de Castro, embora a “intervenção política na economia” possa complicar ainda mais os indicadores econômicos no pós-eleição, dado o risco fiscal.
O gasto total de 41,2 bilhões de reais da PEC é esperado até o fim deste ano, incluindo medidas como um auxílio de 1.000 reais para os caminhoneiros, o aumento do Auxílio Brasil de 400 para 600 reais e o aumento do valor do vale-gás para a população de baixa renda. Na avaliação de especialistas, apesar de ter duração temporária, a decisão põe em risco as contas públicas, ao elevar a perspectiva de “furo” no teto de gastos, estabelecido como medida de responsabilidade fiscal. O subsídio no ano eleitoral, de fato, gera um impacto positivo para o consumidor no curto prazo, porém “joga, de novo, o fiscal do país em uma curva de alerta”, diz Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos.
Joe Biden, por sua vez, já defendeu a estratégia de suspensão por três meses do imposto federal sobre os preços dos combustíveis, e, mais recentemente, demandou às empresas uma redução dos preços da gasolina nos postos. “Este é um tempo de guerra e perigo global. Diminua o preço que você está cobrando na bomba para refletir no custo que você está pagando pelo produto. E faça isso agora”, disse. Com uma rejeição de 55,9%, no compilado da empresa de pesquisas Fivethirtyeight, Biden busca manter a liderança na Câmara e aliviar a margem apertada no Senado. A defesa do presidente sobre a redução abrupta nos preços da gasolina gerou críticas, inclusive, de Jeff Bezos, da gigante Amazon, alegando uma interferência direta no domínio econômico. “Ou é um direcionamento errado ou um profundo mal-entendido da dinâmica básica do mercado”, disse em tuíte.
Tanto Bolsonaro quanto Biden parecem “estão lançando mão de tudo” para melhorar a imagem nas próximas eleições. “Essas medidas não atacam o principal ponto de pressão que está gerando essa inflação de combustíveis, e nem teriam como, pois é a pressão do preço do barril de petróleo em função da guerra e aqui no país tem a pressão do dólar, oscilando para cima. Essas medidas tendem a fracassar no médio e longo prazo”, avalia Matheus Peçanha, economista e pesquisador do FGV/IBRE.