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O negócio das locadoras cada vez mais está na comercialização de veículos

Venda de veículos usados caiu 12,8%, mas locadoras registraram crescimento de 24% no segmento; todavia, fusão entre gigantes pode concentrar o mercado

Por Diego Gimenes
Atualizado em 9 abr 2021, 00h15 - Publicado em 8 abr 2021, 09h34

Mesmo em meio a uma das maiores crises da indústria automobilística, um dos segmentos desse setor teve razões para festejar o ano de 2020: o das locadoras de veículos. Embora tenham praticamente paralisado as atividades entre os meses de abril e maio do ano passado, quando a pandemia eclodiu no Brasil, a retomada das companhias foi bastante agressiva no segundo semestre. Seja pelo aumento da informalidade, que fez alguns trabalhadores alugarem carros para obter uma renda extra com aplicativos de mobilidade, ou até mesmo em consequência da própria pandemia, quando pessoas passaram a alugar carros para viajar como forma de evitar enfrentar um ônibus ou avião, o mercado das locadoras se mostrou eficiente também em outras pontas no negócio, como a compra e venda de veículos.

Pela primeira vez na história, a frota total dessas empresas ultrapassou a barreira do milhão, alcançando a marca de 1,07 milhão de veículos. Somente em 2020, as locadoras compraram 360 mil carros zero quilômetro, o equivalente a 20,6% de todos os automóveis e comerciais leves emplacados no ano. Outro ponto importante a ser destacado é que, em 2020, elas foram responsáveis pela comercialização de 250 mil veículos seminovos, um crescimento de 24% em relação ao ano anterior, quando venderam 190 mil unidades.

Se essas empresas, como Localiza, Unidas e Movida, compram veículos em grande quantidade, evidentemente possuem condições especiais de aquisição junto às montadoras. Essa é uma das razões que explicam a tese de que as locadoras saem ganhando nas três pontas do negócio. “As locadoras ganham na compra, porque recebem grandes descontos por comprarem em quantidade, ganham no processo de utilização, seja nos aeroportos, por aluguéis corporativos ou para aplicativos, e, por fim, também ganham na venda daquele ativo”, ressalta Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics. As vendas permitem que elas renovem suas frotas.

Enquanto as locadoras comemoram, o setor automotivo vive momentos difíceis, com a baixa demanda de consumo. Em 2019, foram negociados 541 mil automóveis e comerciais leves, 180 mil a mais que no ano passado. Já no caso da venda de usados, a Federação Nacional das Associações de Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) contabilizou 12,8 milhões de transações de veículos em 2020, uma queda de 12,8% na comparação com 2019.

Embora a justificativa para a comercialização dos veículos seja a renovação de frota, em vista que esse dinheiro é reinvestido para aumentar o cardápio aos clientes, não se pode ignorar a relevância que esse segmento ganhou nos últimos anos. As locadoras, hoje, são peças importantes para o abastecimento das concessionárias e das lojas de bairro, uma vez que 50% das vendas são destinadas a esses pequenos empresários. Cerca de 30% dos veículos são vendidos em leilões e os outros 20% diretamente aos consumidores finais, de acordo com a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla).

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O faturamento líquido das 11.053 empresas ativas no mercado foi de 15,3 bilhões de reais em 2020. Apesar da queda de 3,7 bilhões de reais em relação a 2019 — por causa da pandemia –, o setor abriu 2.110 novos postos de trabalho e, agora, é responsável por empregar 77.214 pessoas. Ao todo, foram 44,6 milhões de diárias de aluguel de carros em 2020.

O setor vive a expectativa pela aprovação da fusão entre as gigantes Localiza e Unidas, que formariam um conglomerado avaliado em 50 bilhões de reais. As concorrentes se mostraram contrárias ao negócio, e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deve decidir sobre a legitimidade do acordo. Pelas contas da Movida, por exemplo, a empresa resultante da fusão teria 70% do mercado, e não 37%, como anunciado anteriormente. “Pelo fato de a nova companhia ter uma participação maior no mercado, ela pode ditar um certo direcionamento nos preços”, avalia Neto.

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O ponto comum de apreensão entre as empresas do ramo é o momento delicado que vivem as montadoras. A falta de componentes eletrônicos nas fábricas e a segunda onda de Covid-19 prejudicam os trabalhos da indústria. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as concessionárias só têm estoque para mais 13 dias. “A preocupação de que não haja carros suficientes para a renovação da frota persiste, inclusive, para este ano de 2021”, diz Paulo Miguel Junior, presidente da Abla.

A GM, por exemplo, interrompeu a produção do Onix, carro mais vendido do país, até o mês de junho. A norte-americana, que vem enfrentando as mesmas dificuldades de suas concorrentes, perdeu o posto de maior fornecedora de veículos às locadoras para a Fiat. Fruto dessa instabilidade, o Onix também deixou de ser o carro mais emplacado pelas empresas do setor, tendo o lugar ocupado pelo Volkswagen Gol. Sem automóveis, ou mesmo com uma redução significativa de licenciamentos, toda a cadeia de novos e seminovos será afetada. Das locadoras às concessionárias de bairro. O remédio para a crise se atenuar você já conhece, se chama vacinação em massa.

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