Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

O príncipe herdeiro sentado no petróleo que fez o mundo balançar

Em plena crise financeira movida pelo coronavírus, a Arábia Saudita alimenta o caos. Obra de MBS, que segue a linha 'prende e arrebenta' 

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 14h30 - Publicado em 13 mar 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • “É melhor ser temido do que amado.” A frase de Nicolau Maquiavel em O Príncipe, ensaio sobre o poder escrito em 1513, aplica-se como luva a Mohammed bin Salman, o truculento príncipe herdeiro e mandante de fato da Arábia Saudita. O golpe de sua mão pesada na segunda-feira 9 repercutiu no mundo inteiro: em pleno derretimento dos mercados financeiros por causa do novo coronavírus, MBS, como é chamado, multiplicou a oferta de petróleo do país, dono das maiores reservas do planeta. A manobra fez o preço do barril, que já estava lá embaixo, despencar de vez — chegou a 35 dólares, o fundo do poço que não alcançava desde 1991. Por que o príncipe deu esse aparente tiro no próprio pé? Para encostar na parede a Rússia, seu concorrente mais direto. Dias antes, os quinze grandes produtores de óleo bruto reunidos na Opep haviam aprovado um corte conjunto da oferta diária de 1 milhão de barris/dia, como forma de se proteger contra a queda abrupta da demanda asiática, puxada pela China. A Rússia, que não é do grupo, foi contra.

    Enquanto todos os outros produtores prendem a respiração (inclusive o Brasil — a Petrobras perdeu em um dia quase 30% de seu valor de mercado), analistas debatem o real propósito do fim de uma longa trégua entre os dois gigantes na batalha por mercados. A maioria vê uma manobra de reposicionamento — com a demanda em queda, quem chegar primeiro, com descontos e barris disponíveis, ganhará, e a Arábia Saudita saiu na frente. Outra intenção seria tumultuar a indústria de óleo de xisto, que fez com que os Estados Unidos passassem de importador a maior exportador mundial. As empresas desse segmento são pequenas e não suportariam uma guerra de preços prolongada. Todos concordam: o futuro do setor petrolífero neste momento é incerto e arriscado. Dar um susto desses sem ligar muito para as consequências é típico de MBS, autocrata com cara de vilão de desenho animado que manda e desmanda na Arábia Saudita desde que seu pai, o rei Salman, de 84 anos, atropelou a sucessão e o instalou no comando.

    Na mesma semana em que torpedeou a indústria do petróleo, o herdeiro deu ordem para prender na surdina, sem comunicado oficial, três possíveis ameaças a seu futuro trono: o tio Ahmed bin Abdulaziz — irmão mais novo, e o único ainda vivo, do rei Salman — e os filhos dele, Mohammed e Nawaf bin Nayef. “Se houvesse alguma justificativa sólida para as prisões, elas teriam sido divulgadas e o caso seria levado à Justiça”, diz Greg Gause, analista do Golfo Pérsico da Texas A&M University. O primo banido Mohammed estava na lista negra porque, se a tradição de os reis passarem o trono para os irmãos tivesse sido mantida, seria ele o herdeiro, depois do pai, e também porque, pré-MBS, foi ministro do Interior e o interlocutor preferencial dos Estados Unidos. O tio Ahmed é outra história. Manifestou apoio ao novo herdeiro e manteve sua posição de prestígio na corte. Viajava com frequência — ao ser detido, tinha acabado de voltar de uma caçada com falcões, o hobby dos royals do Golfo Pérsico.

    Sua prisão, e a dos dois filhos, não foi a primeira incursão de MBS contra poderosos sauditas. Logo depois de se tornar herdeiro, confiscou o luxuoso Hotel Ritz-­Carlton em Riad e lá confinou centenas de nobres e milionários. Acusados de corrupção, pagaram fortunas para ser liberados. Em seu currículo de atrocidades está a intervenção na guerra civil no Iêmen, que desencadeou uma grave crise humanitária. E, ainda, a mais escabrosa de todas: deu ordem para matar o jornalista Jamal Khashoggi, desmembrar e sumir com seu corpo — Khashoggi era colunista do Washington Post, vivia nos Estados Unidos e fazia oposição ao príncipe. Temido, com certeza, MBS está conseguindo ser.

    Publicado em VEJA de 18 de março de 2020, edição nº 2678

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.